Como
resultado de nossa colonização e dos muitos povos que passaram pela terra temos
consequências sociais presentes, logo ao passo que temos um maiores territórios
do globo sofremos também pelas diversidades espalhadas por esse território.
Temos diferenças significativas entre as regiões, que tangem características
físicas e culturais marcantes e impossíveis de serem ignoradas, e que chegam a
trazer tal estranheza a ponto de criar um sentimento separatista por não se
sentir incluso dentro do que entendido como cultura brasileira.
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À esquerda, indígena da Aldeia Maracanã sendo detido pela PMERJ,
Rio de Janeiro, Brasil. À direita camponeses e indígenas zapatistas, no México. |
A
xenofobia é normalmente relacionada a não aceitação do que é estrangeiro, no
sentido de fora do seu país, quando na verdade é a pura negação ao que é
diferente da cultura hegemônica, de seus costumes, suas crenças. Isso é
demonstrado toda vez que se rejeita um outro modo de ser, pessoas com sotaques
diferentes imediatamente são estigmatizadas (como acontecem com os nortistas e
nordestinos), junto com o sotaque é atribuído uma carga negativa a sensos
comuns do que é ser de determinada localidade, o que demonstra um sectarismo
entre nosso próprio povo. Não é interessante para a luta revolucionária que o
povo crie ódio entre iguais, não é esse apenas um discurso demagógico de
aceitação da diversidade da sua própria sociedade, mas o reconhecimento que
nossas diferenças são usadas contra nós mesmos, o povo, o proletariado, e que
nosso inimigo deve ser um só, o sistema que nos aprisiona e nos torna
competitivos entre nossos semelhantes.
O
regionalismo dentro do Brasil tem sido obstáculo para a revolução desde que se
estruturou e foi incentivado pela burguesia, pelos meios de comunicação, pelo
governo e pelos “intelectuais” burgueses, para implantar no seio do
proletariado a ideia de que uma determinada região produz toda riqueza do país
ou “sustenta” outra região. Tal discurso busca fracionar a classe trabalhadora
brasileira, fazendo com que os próprios operários acabem por criar uma xenofobia
contra seus irmãos proletários de outras regiões. Temos isso bem exemplificado
na relação Sul x Nordeste.
Cabe
a Unidade Vermelha e a toda organização verdadeiramente revolucionária buscar
desfazer esse preconceito xenofóbico que a burguesia implantou no proletário.
Devemos agir, neste sentido, buscando maneiras de mostrar a questão classista
que envolve o preconceito regionalista.
Para
além disto, temos também a questão internacionalista. O imperialismo, apesar de
globalizado, busca dividir os países e criar rixas entre os trabalhadores de
diferentes países a fim de evitar que tais trabalhadores unam-se em uma frente
internacional. Como exemplo deste preconceito entre proletários tem vários
países europeus, e a questão dos imigrantes latinos americanos nos EUA. Tem-se,
também, um preconceito dentro da própria esquerda, onde se odeia todo produto
norte-americano; tal preconceito que pode ser caracterizado xenofóbico, por se
tratar de uma ignorância por parte de quem o tem. O ódio contra os norte-americanos
que muitos militantes da esquerda têm é fruto de uma ignorância e da falta de
consciência de classe para além das fronteiras nacionais: O povo
norte-americano não é culpado pelos atos de seu governo, devemos nos
solidarizar e buscar cativar cada vez mais o trabalhador norte-americano que,
como nós, também é explorado pela sua burguesia que, hoje, é a mais poderosa do
globo.
Nessa
linha temos ainda a análise sobre etnias, um marcador que diferente da cultura
é muito mais subjetivo, ligado à um grupo pequeno e restrito ligados por
questões amplas, o maior exemplo disso é no que tange o Brasil, os Índios. O
imaginário indígena muito embora presente na cultura brasileira, tem seu lugar
alienado diante a imposição da colonização europeia no Brasil. A questão
indígena é altamente deturpada e hoje em dia burocratizada pelo mesmo
etnocentrismo europeu que os marginalizou.
Criou-se
o mito do índio como um ser despido de pudores ou de esperteza da qual o
europeu impôs um processo de aculturação e escravidão do povo indígena. A
resistência indígena dura até os dias atuais. Juntamente com o estereótipo
indígena imposto, criou-se também o mito de que o povo indígena era um só, sem
diferenças, apenas com mutualidades, o índio passou ser então nada além de figura
de lendas, titular de direitos dados pelos mesmos que os oprimiram e terras
demarcadas sem respeito nenhum a suas peculiaridades.
Falar
sobre o índio é necessariamente falar sobre a questão agraria e a questão
ambiental, ao passo a cultura indígena está diretamente ligada a significação
da terra, dos rios e das plantas, mesmo que hoje o próprio indígena se vê
exterior a suas raízes, e em consequência as significações envolvendo sua terra
e seus meios de subsistência. A realidade do indígena é a realidade de um povo
que luta pela retomada de suas raízes étnicas, do respeito retirado da
significações ligadas a essas.
O
indígena não é a simplificação ou um estereótipo estampado na mídia aberta, o
índio não é propriedade do governo federal e suas questões não merecem apenas
prosperar mediante situações fatídicas que são usadas para mistificá-lo como um
povo violento que quer mais do que o bondoso governo, mandado e desmandado de
interesses privados, pode lhe dar. Os índios tem direito a sua terra por simplesmente
darem a ela a razão social constitucionalmente prevista.
Nesse
sentido a Unidade vermelha tem como diretrizes de sua defesa ao indígena e de
combate a xenofobia e aos preconceitos regionalistas:
1-
Pelo combate ao preconceito contra todos e quaisquer povos estrangeiros!
2-
Combate aos preconceitos regionais contra os nortistas e nordestinos, e pela
valorização cultural de todas as culturas regionais de nosso país!
3-
Que a crítica e o combate ao imperialismo cultural não sejam confundidos com
preconceitos contra a cultura e os povos de quaisquer países, mesmo os
imperialistas!
4-
Pela promoção da autodeterminação do povo indígena como povo digno do que lhes
é pertinente em respeito aos seus aspectos culturais!
5-
Pelo combate ao estereótipo de violência e selvageria ligada ao índio, que
apenas serve ao interesse burguês e latifundiário!
6-
Pelo rechaço a qualquer política que fira não apenas a autodeterminação
indígena, mas que ponha em risco o meio ambiente estável e saudável a qual lhe
é garantido, e principalmente em detrimento de interesses do capital, que
ignora a cultura tradicional e passa por cima das
significações atribuídas ao meio ambiente por aquele povo!
Essa ignorância que a burguesia joga o proletário,
seja com relação ao regionalismo xenofóbico ou a questão étnica/indígena, faz
com que a classe trabalhadora sofra com o fracionamento e desunião. Portanto
cabe a nós, enquanto revolucionários, abrir os olhos do proletário desta
armadilha burguesa e tentar implantar, no seio de cada movimento das
minorias a questão classista que as coloca excluídas da mídia e,
consequentemente, da visão e compreensão da maior parte da sociedade.