Os
revolucionários em todo mundo, sobretudo no que concerne a lutas anticoloniais
e anti-imperialistas, sempre estiveram intrinsecamente ligados nas lutas de
emancipação dos povos de cor, que foram “redobradamente” espoliados
pelas elites coloniais e imperialistas.
Com
o intuito de reforçar uma dominação material, sobre tais classes menos abastadas,
que se configuravam em sua maioria pelos povos de cor, houve também uma forte
dominação racial por parte dos colonizadores, com o intuito de reforçar a
dominação política e econômica sobre tais povos. Na maioria das nações
colonizadas, isso se deu com o povo negro (o continente africano foi o que mais
sofreu e sofre com isto), e é assim que igualmente se deu no Brasil, e por isso
que hoje temos resquícios da colossal opressão nascida em outrora, que aqui
nunca acabou.
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À esquerda, foto de militantes do BPP (Black Panther Party) em marcha. À direita, cartaz soviético em prol da emancipação dos povos de cor e contra a discriminação racial. |
Ao
analisar a situação do povo negro em todo o mundo, devemos buscar entender como
o desenvolvimento do capitalismo transformou o racismo em capital cultural. Os
negros chegam ao Brasil durante o processo de colonização, foram transformados
em escravos pelos europeus que, utilizando-se de sua força de trabalho, os
condicionou ao desenvolvimento do capitalismo mercantil.
Mas
para dar cabo desse processo de escravização do povo africano, os europeus
tiveram que buscar 'justificativas', e ao lado de outros setores da sociedade -
como a Igreja -, construíram uma cultura racista para inferiorizar o povo negro
e toda a sua expressão cultural. Citando a religião para exemplificar, naturalizou-se
a ideia de que as religiões africanas seriam 'malignas'. Esteticamente as
características comuns dos negros, são colocadas como feitas, seus cabelos como
ruins, suas religiões como malignas, seus deuses como demônios, suas preces
como “magia negra” (essa expressão por sinal surgiu com o intuito de tornar os
termos “negra” ou “negro” como termos pejorativos).
Diversas
expressões da língua portuguesa derivaram-se da questão de raça, embora hoje
algumas já não sirvam mais a seu propósito racista original. Desse modo, são
desnecessárias as mudanças ortográficas na tentativa de "desenraizar"
o racismo, pois não se "desenraizará" o mesmo com simples mudanças na
língua portuguesa - mas exemplificam como a nossa sociedade na sua formação se
preocupava em inferiorizar o negro.
Em
todo o período da escravidão do negro no Brasil, a luta classista esteve
presente nos movimentos de resistência como os Quilombos e a Conjuração baiana.
As contradições do capitalismo sempre se mostraram evidentes e deram força e
conotação revolucionária aos movimentos emancipatórios, mas toda forma de
resistência e libertação do povo negro foi reprimida pelos mecanismos de
opressão do sistema, pelas classes dominantes.
A
liberdade do negro, de fato, nunca existiu no Brasil. Após um processo de
abolição que só se importou com os interesses das classes dominantes, o negro
continuou sendo escravo: um escravo assalariado. Sem prosperidade e sem as
mínimas condições de subsistência, o negro foi obrigado a vender sua força de
trabalho de forma barata, muitos voltaram à condição inicial de miséria por não
terem para onde ir e nenhuma perspectiva para desenvolverem suas próprias
vidas.
Essas
condições favoreceram a criação de favelas. Isso justifica a presença
majoritária de negros em favelas e áreas marginalizadas. A primeira favela
brasileira foi criada assim que a escravidão foi abolida: sem local para morar,
os recém-“libertos” foram obrigados a se ajeitar na encosta do morro que hoje é
conhecido como Providência, no Rio de Janeiro.
A
juventude negra é a que mais sofre com a pobreza e a criminalização na
periferia. A violência praticada contra o jovem negro e pobre supera, de
maneira devastadora, a violência praticada contra a população jovem de outras
raças: a cada dez jovens assassinados no Brasil, oito são negros. O fato de
fazer parte dessa parcela específica da população implica pertencer a um grupo
de risco em termos de violência, inclusive de assassinatos derivados de
abordagens policiais.
Não
obstante, todos os dias surgem novos relatos de como jovens negros que,
desprovidos de documentos, tornam-se costumeiramente alvo mais fácil para
policiais direcionados unicamente pelos estereótipos; uma polícia corrupta “que
herdou do Jorge Velho o instinto assassino de perseguir a pele escura,
baseando-se em esteriótipos para identificar o suspeito”. Além disso, já
que o negro sempre é visto como um ser inferior - seja social, seja
economicamente, não são raros os casos de racismo mesclado com elitismo, puro
preconceito de classe e raça. Afinal, para a burguesia, "o negro é
pobre".
A
dominação racial se expressa também de diversas maneiras. O povo negro é maior
vítima da corporeidade, questões de conotação sexual e etc. A mulher negra
inclusive, passa por mais provações que o resto das mulheres, e é vítima de uma
objetificação sexual maior. Nas baladas e festas diluídas de homossexuais branquinhos
das altas classes, os negros não tem espaço “para serem bichinhas e
afeminadas, nem pensar”, eles só podem ser os objetos sexuais deles e por
isso devem se transparecer, como manda a cartilha da heternormatividade, homens
viris, bem dotados, e não-afeminados, como já foi falado “bichinha preta
afeminada, nem pensar, o negro bom é o bem dotado, viril, masculo...".
Nesse
sentido, sobre as mulheres negras, nem se precisa nem falar muita coisa.
Estereotipadas no Brasil, e até para os turistas, como uma “boa aventura
sexual”, alvos das “caças às mulatas”. Como os playboys que utilizam
as mulheres negras, como mero objeto de prazer, mas quando procuram alguém para
se casar, somente com uma “madame” do seu condomínio. Negras são ótimas
aventuras sexuais, mas não são boas para apresentar a seus amigos como sua
companheira. Negros e negras são ótimos objetos, mas são péssimos para ocupar
espaços de poder. Tudo isso, herança cultural da sociedade escravagista que
tínhamos até um tempo atrás.
Concepção de movimento e os inimigos no seio do
movimento negro
A
formação do proletariado brasileiro está fortemente relacionada ao processo de
colonização. Ainda em tempos atuais, onde os povos de cor são maioria (mais de
50%) no Brasil, eles são igualmente maioria entre a classe trabalhadora
brasileira, mas negros entre nas classes abastadas são uma quantidade
praticamente irrisória. E ainda que mesmo com uma população tão grande de
negros em nosso país, devido a escravidão, o “branqueamento cultural” e etc., o
racismo ainda ficou fortemente enraizado em nossa sociedade, mesmo nas classes
mais pobres, e possuem inclusive indivíduos pobres e/ou negros que reproduzem
tais preconceitos de raça. Toda forma de expressão cultural, religiosa,
artística proveniente do negro é tida como inferior e sofre constantemente com
a reprodução do preconceito e opressão (infelizmente, inclusive por outros
negros).
Combater
o racismo significa, também, lutar contra este sistema opressor. A propagação
do racismo e a exploração do negro estão alicerçadas nas raízes mais elementares
de nosso sistema decadente. A superação da sociedade de classes é um passo
obrigatório para a superação do racismo. É fato de que, a pura e simples
derrubada do sistema político-econômico que temos hoje, somente ela, como numa
“relação mecânica”, não fará com que a opressão aos negros seja sucumbida, mas
a sociedade de classes, em que vivemos hoje, além de ser amparada pela opressão
aos negros, igualmente ampara esta opressão (numa relação mutua e recíproca),
de uma maneira muito efetiva.
Compreendendo
isso, entendemos do porque, só se terá como o povo negro se emancipar
efetivamente, com a superação do atual sistema opressor. O povo negro deve
tomar para si a tarefa da emancipação de si mesmo, mas ela só poderá ser
realizada plenamente em conjunto com a emancipação da classe trabalhadora (que
por sinal, os negros são majoritários na classe). Por isso, se faz necessário
pautar como tarefa do movimento negro, o combate pela não dissociação do
caráter de classe no movimento. A isso damos o nome de protagonismo negro, um
protagonismo que deve se dar dentro da luta revolucionária.
Assim,
mesmo depois de se iniciar um processo revolucionário – com o estabelecimento
de um governo popular, democrático e revolucionário – ainda sim, deve-se
continuar a luta pela inserção do negro enquanto quadros dirigentes. Deve se
continuar a constante luta pela emancipação dos negros; combatendo o racismo
desta vez de uma maneira efetiva, no campo socioeconômico e cultural.
Desde
já, ainda na nossa atual sociedade, dentro deste sistema político-econômico,
apoiamos ações de caráter afirmativo, um Estatuto amplo sobre a questão negra
no Brasil, descriminalização das religiões e cultura de matrizes africanas, e
projetos que visem conscientizar a população em geral sobre a questão negra. No
entanto, estamos cientes de que tais medidas, dentre do atual sistema, são
paliativas e não são suficientes para libertação do negro em nosso país; porque
a verdadeira prisão aos negros se dá na realidade objetiva de nossa sociedade e
é parte intrínseca do próprio regime.
Ações
afirmativas, projetos de conscientização, leis e etc. são importantíssimas para
o reconhecimento da situação negra no Brasil e por isso apoiamos tais ações,
mas sabemos que o sistema imperialista mundial tem um limite, e o racismo que é
algo intrínseco a esse sistema de dominação aos povos de cor, continuará
existindo por mais que nós lutemos para a melhora da situação dentro do mesmo.
Como
todo movimento político, semelhante aos movimentos de mulheres ou semelhante ao
movimento dos trabalhadores, o movimento negro possue um norteador e inimigo
principal: A discriminação, a dominação racial, o privilégio do branco e etc.
Mas
estes não são os únicos empecilhos do movimento. No seio do próprio movimento
negro, da mesma maneira que outros movimentos há autossabotadores, empecilhos
internos nocivos ao movimento, que mais atrapalham a luta dos negros (ou a
limitam) do que ajudam.
Muitos
coletivos e organizações de movimentos negros, inclusive muito respaldadas no
Movimento Estudantil, promovem uma imagem, por exemplo, das cotas raciais, como
se elas fossem a salvação de todo negro que quer estudar numa universidade.
Pessoas que não entendem que “as cotas não nos bastam”. Não entendem que
a cada negro que se coloca na universidade por meio de cotas, outros 100 negros
ficam de fora, “não tem pra todo mundo”, e por isso, medidas paliativas
como esta, no final das contas, não resolve de fato o problema. Institutos que
reduzem o racismo (a opressão aos negros) a um pequeno ato de discriminação, e
fazem coro com o limitado e falso “antirracismo” da institucionalidade
burguesa. Quando sabemos que a opressão se estende ao negro anônimo, morto
inocente pela policia militar, que teve seu corpo ocultado, e seu nome indo pro
hall dos desaparecidos dentre tantos e tantos favelados; quando sabemos que o
racismo está na estatística que mostra que a cada 10 jovens mortos em
assassinatos 8 são negros. É mais ou menos assim que se dá a opressão aos
negros em nossa terra, e não se limita a um “pequeno ato de destratamento com
um negro”, como a institucionalidade burguesa, e organizações negras – que mais
parecem de “negros da Casa Grande” – querem pregar. O movimento negro
emancipatório, deve ser edificado por negros com uma consciência racial e de
classe de um “negro da Senzala”.
Outro
mal, que consegue penetrar fortemente na comunidade negra, que são
bastantemente nocivas ao movimento, são problemas como a questão da
criminalidade, drogas e etc. E já foi historicamente comprovado que estas
problemáticas foram utilizadas pela reação para sabotar de maneira efetiva
muitos movimentos negros e de periferia.
Nos
EUA, as ofensivas do FBI contra o Partido dos Panteras Negras são a
maior prova disso. Financiaram exacerbadamente o megatráfico no seio da
comunidade negra e, com isso, facilitaram a destruição do Partido. No Brasil,
organizações como o Comando Vermelho ou mesmo o PCC passaram por
processos parecidos (se bem que estavam bem mais sujeitos a isso que outras
organizações). Podemos lembrar que o primeiro nome do PCC não era Primeiro
Comando da Capital, mas sim Partido Comunista Carcerário (PCC).
Tais organizações tiveram seus propósitos diluídos, ou a organização foi
destruída, tudo por conta de problemas com o envolvimento com drogas,
criminalidade e etc. Sempre tentam arrastar esses movimentos para a lumpenização
ideológica, ou utilizar de tais métodos para destruí-los.
Toda
forma de expressão cultural, religiosa, artística proveniente do negro é tida
como inferior e sofre constantemente com a reprodução do preconceito e opressão
(infelizmente, inclusive por outros negros).
Por
isso, estes também são inimigos e empecilhos que podem diluir e degenerar os
movimentos negro, carcerário, de periferia e etc., por serem problemas que a
comunidade negra está mais facilmente sujeita a passar, e por isso, o movimento
negro deve ter uma preocupação maior com estes inimigos internos.
O
niilismo moral e as concepções pequeno-burguesas de movimento são nocivas
também, mas não são tão fortes no seio do movimento negro, devido a um fator
concreto e objetivo: a maioria esmagadora dos negros se concentra nas classes
menos abastadas (entre os explorados, entre a classe trabalhadora), mas existem
poucos negros nas classes médias, na pequena-burguesia, e menos ainda nas
classes dominantes, isso dificulta a cooptação do movimento negro pelas
concepções pequeno-burguesas de movimento, diferentemente como ocorre em graus
mais elevados com os movimentos femininos, LGBTT e etc.
Por
isso, tais concepções morais (sobretudo pequeno-burguesas) nocivas aos
movimentos emancipatórios encontram mais dificuldade de se penetrar no
movimento negro. Mas apesar de estas concepções não se penetrarem tanto no movimento
negro, ainda há o que é nocivo a se afastar dentro do movimento: A mentalidade
de “negro da Casa Grande”, e os males que batem a porta constantemente
na comunidade negra e na periferia (diluição por meio da criminalidade, drogas
e etc.).
Outros
desvios que devem ser evitados, e que já não são muito fortes – o movimento
negro como um todo, a nível internacional provavelmente já conseguiu superar
esse debate – são concepções como as de “Supremacia Negra”. Já houve
movimentos, não tanto influentes, que podem ser visto na história, que pregavam
a superioridade racial dos negros, muitos deles por motivos religiosos. Achavam
que os brancos eram inimigos, deviam ser rechaçados e combatidos e que o povo
negro era superior, “escolhido por deus”. O exemplo histórico mais conhecido é
a Nação do Islã, que foi bastante popular nos EUA. Acabavam por pregar – de
forma inversa – o que o movimento negro justamente devia combater: a segregação
e opressão racial, na intenção de tornar o negro um privilegiado.
Tais
concepções e práticas “esquerdistas” (i.e., estreitas, inversamente “racistas”)
no seio do movimento negro, não são tão fortes quanto foram outrora, e
terminaram sendo superadas. Movimentos como o BPP (Black Panther Party) e
dentre outras organizações negras ascenderam em paralelo com o declínio de
organizações como a Nação do Islã, e foram responsáveis por tecer um caráter de
luta ao movimento negro que deve ser tido como referência até os dias de hoje.
Neste sentido, entendemos que o homem branco, apesar de ser privilegiado, não
deve ser combatido “em si”, e que o que se deve combater é o “Poder Branco”: a
dominação racial, a supremacia branca, o “embranquecimento cultural” (que
enaltece religiões como o cristianismo, mas demoniza os deuses africanos e
demais costumes e religiões africanas). É esse tipo de combate que deve ser
feito, mas não tratando o branco (e os demais não negros) como um inimigo, como
uma “raça inimiga a ser extirpada”.
O que defendemos no movimento negro?
A
superação do atual sistema, pautado na opressão de classe, sem dúvidas é um
passo indispensável para o fim da opressão aos povos de cor, e acreditamos que
essas lutas não andam separadas, pelo contrário, estão lado a lado, são
intrínsecas; afinal, tais opressões também são intrínsecas e se reforçam
mutuamente.
É
por esse amontoar de coisas que defendemos os seguintes pontos:
1
- Por entendermos que são as massas que comportam em si o potencial para
edificar a revolução, avaliamos que não se pode conceber tal processo
revolucionário somente com uma parte dessas massas. Acreditamos que o povo
negro possui grande potencial emencipatório na edificação da revolução!
2
- Por entendermos a opressão histórica que o povo negro foi submetido:
Aniquilação total das amarras racistas que os prendem! Combatemos a opressão de
classe e o racismo oriundo desta!
3
- Por estarmos cientes que é o negro o principal alvo da repressão do Estado na
periferia: Contra o genocídio do povo negro!
4
- Por sabermos a origem de classe da opressão aos negros: A emancipação da
classe trabalhadora!
5
- Pela vulnerabilidade da mulher negra a ser vista como mero símbolo sexual: o
“enegrecimento” do movimento feminino revolucionário!
6
- Por entendermos que negros, através de si mesmos, unindo-se a si mesmos,
levantar-se-ão contra o racismo: Protagonismo negro!
7
- Devido ao pouco contingente negro em lutas emancipatórias: Incessante busca
pela inserção dos negros na luta revolucionária; bem como exaustiva formação de
negros como quadros dirigentes, para ocuparem espaços de liderança na luta, no
qual se encontram ausentes!
8
-Por entendemos que a dissociação do caráter de classe é prejudicial ao
movimento negro: Combate as concepções pequeno-burguesas, a mentalidade do
“negro da Casa Grande” e a subjetividade acadêmica no movimento negro! Lutando
pelo fim da “mentalidade de escravo”, pela edificação da firme consciência de
classe e raça do “negro da Senzala”!
9
- Por entendermos que a conscientização dos brancos, amarelos, pardos, índios,
etc. é necessária para a luta contra o racismo e por entendermos que sua
contribuição é valiosa: pelo não isolamento do movimento negro das massas não
negras!
10
– Por entendermos que o racismo precisa ser combatido para além do campo das
ideias, defendemos a promoção de políticas de ações afirmativas para o povo
negro!
11- Por entendermos que as religiões de matriz africana são discriminadas e perseguidas, pelo respeito e reconhecimento das religiões de matriz africana!
12-
Por entendermos o descaso e preconceito que sofre a cultura negra e popular,
pela valorização e resgate histórico da cultura negra!
13
- Por entendermos que no mundo, e principalmente no Brasil, existem movimentos
racistas totalmente reacionários e perigosos, apoiamos o direito do negro à
autodefesa contra os racistas e fascistas!
Enquanto
houver negros e negras submetidos à exploração e humilhação, seguiremos
adiante. Até que todos os trabalhadores negros tenham seus direitos
assegurados, seguiremos adiante. Enquanto houver racistas-fascistas fanáticos
colocando em risco a vida dos jovens negros, seguiremos adiante. Pela
construção de uma sociedade justa e emancipada, igualitária entre raças e
sexos. Seguiremos adiante, construindo um movimento negro intrinsecamente
ligado a emancipação dos povos, seguiremos adiante!
"Nós precisamos chegar a um entendimento sobre
o que uma sociedade racista é. Nós usamos este termo sem analisá-lo muito bem.
Nós precisamos reconhecer que uma sociedade racista é sobre estruturar
circunstâncias sociais e políticas, circunstâncias econômicas, circunstancias
psicológicas e culturais, de modo que uma raça possa tomar vantagem sobre
outra. E uma raça possa se beneficiar se aproveitando da outra. Isto tem pouco
a ver com atitudes raciais negativas. Quando você define o racismo nestes
termos de pequenas atitudes você se encontra resolvendo os problemas errados.
Estas pessoas irão parar de expressar estas atitudes negativas. Elas vão sorrir
mais frequentemente para você. Elas vão até se casar com você e ir para a cama
com você, mas você vai notar que os efeitos do racismo, os efeitos da pobreza e
todas estas outras coisas irão continuar. E não só elas continuam, elas
aumentam. No fim das contas, você precisa reconhecer que o racismo envolve o
poder de uma raça de impor sua vontade sobre a outra. Isto, no fim, é sobre
poder. As pessoas brancas [que são racistas] são racistas
porque elas têm o poder de ser. E se nós vamos acabar com o racismo nós temos
que acabar com o poder branco".
(Amos N. Wilson – Trecho de “Defining Racism”)