"Ou os estudantes se identificam
com o destino de seu povo, como ele sofrendo a mesma luta, ou se dissociam do
seu povo e, nesse caso, serão aliados daqueles que exploram o povo"
(Florestan Fernandes).
Cumpre-se dentro do dever de
Organização Nacional Libertadora não só o apreço a situação de preparação das
massas laborais a revolução, mas na conscientização de qualquer segmento que
venha a contribuir com essa, a universidade não deixa então de estar inserida
nisso. Mister iniciarmos então o debate sobre modos de ingressar como
organização revolucionária dentro desses meios.
Afirma-se desde então a necessidade de entendermos a estratégia que é a Universidade Popular (UP) e o diferencial que ela pode nos trazer como organização política revolucionária e a cima de tudo de destaque perante os outros grupos políticos atuantes nesse meio.
Assim como no âmbito da política eleitoral a nível executivo e legislativo, o movimento Estudantil é levado dentro das mesmas amarras das políticas ultrapassadas e oportunistas o que é nosso deve combater.
Uma ofensiva pela educação, Universidade Popular!
A Universidade Popular (UP) surge como uma nova estratégia popular de Universidade que procura não só responder aos anseios de suas áreas de atuação, como também construir o futuro da Universidade, que deve vir do povo, se construir com o povo e servir ao mesmo. Longe de ser só isso, a luta por Universidade Popular ajuda a focalizar a militância, de forma construtiva, e evitar os velhos problemas de desorganização, pautas pequeno-burguesas, etc. A estratégia da Universidade Popular, portanto, é também um guia político de atuação que faz com que todas as lutas da Universidade se virem para o que queremos que ela seja e não a simples tomada da organização maior, o mágico D.C.Es e sua estrutura.
Desse modo, a Universidade Popular
não é e nem pode ser um projeto pronto, pois é uma estratégia política: possui
princípios gerais que devem ser constantemente apresentados como horizonte para
a solução positiva dos problemas candentes (direitos estudantis, pesquisa e
extensão, reformas curriculares, planos de carreira, isonomia salarial, etc),
ou seja, como ponto de chegada de programas de ação viáveis e flexíveis,
dependentes da conjuntura política.
Ela também não é uma luta imediatista,
é uma estratégia que se pauta no acumulo de forças, buscando avançar cada vez
mais, sabendo que seu fim será somente com a revolução. Pode haver recuos,
pequenas perdas, mas nada volta a ser como antes. A luta, portanto, é contínua
e gradual, ou seja, progressiva, mas não deixa de ser revolucionária, pelo
caráter transformador.
A falta de popularidade da ideia da
Universidade Popular deriva principalmente da falta de interesse dos grupos que
hoje tentam emparelhar e claro no interesse dos mesmos de manter o status quo
que por hora não estão preparados a mudar e por outra estão confortáveis em
permanecer, principalmente os grupos aliados e beneficiados pela UNE e outros
segmentos governistas. O movimento estudantil é terreno propício à formação
revolucionaria, desde que modificadas as diretrizes de suas atuações hoje, a
estratégia da MUP, não é inovadora, mas é uma alternativa as velhas práticas.
Para ilustrar a viabilidade pratica da Universidade Popular, destaca-se o trecho disponibilizado por Fausto Moura Breda:
“Tem sido comum após longas discussões com
diferentes grupos e pessoas o questionamento taxativo: “então como se constrói
a universidade popular na prática?”. Ora, troquemos universidade popular por
socialismo e logo veremos o quanto essa pergunta é encharcada de imediatismo.
Às vezes parece que é preciso colocar em tópicos ou em forma de lei, com
artigos, parágrafos e incisos para que seja considerado prático ou viável. A
construção prática é a orientação consciente da ação, de modo que uma mesma
luta pode significar um acúmulo de forças ou não. Como não conquistaremos a
universidade popular ou o socialismo amanhã, cada ação prática deve servir para
ensaiar as relações futuras de forma antecipada. Acumular força significa
elevar o nível de consciência do povo e criar meios para que esta elevação
corresponda a formas de organização que sejam viáveis e duradouras e que
impulsionem conquistas cada vez maiores. A consciência individual ou coletiva
pode regredir (embora nunca volta a ser o que era antes), a sociedade atual tem
muitos meios de difusão de sua ideologia. Mas não se tendo clareza da
estratégia, não pode haver acúmulo de força. As lutas sempre existirão, pois a
exploração e a opressão são a razão de ser deste sistema econômico”.
As condições propícias à Universidade
Popular existem e devem ser tomadas como metas para emancipação do povo, não
por ter caráter amplamente revolucionário e por ser acusada muitas vezes de uma
política reformista, ao contrário, é utilizar de um meio propicio em um
ambiente propicio para divulgação das ideais emancipadoras pertinentes. Os
moldes de Movimento estudantil presentes hoje não contribuem em nada ao
esclarecimento revolucionário, prestando nesse passo, um favor apenas as
práticas eleitoreiras.
A
Universidade, no Brasil, tem servido para reforçar o sistema de produção
vigente no sistema capitalista e a espoliação imperialista sobre nosso povo,
bem como na manutenção do abismo que existe entre as classes sociais. Ou seja,
não tem sido mais que um instrumento de reprodução da espoliação imperialista e
do precário sistema capitalista.
O ensino superior tem servido aos
grandes proprietários nacionais e em maior escala, aos grandes imperialistas,
repassando a ideologia das classes dominantes. Não se preocupando em formar o
Ser Humano, e sim o profissional. Impõe a ideologia das classes, atualmente,
dominantes na forma de mascaramento dos problemas sociais, mercantilização do
conhecimento e, ainda, limita o acesso a ela usando de meritocracia e poder de
compra, fazendo com que o cidadão brasileiro passe por diversos “filtros” até
ter acesso ao seu ensino superior.
A universidade que queremos está longe
da que observamos ao nosso redor. Nossa ciência e tecnologia têm perdido o seu
objetivo, não servindo mais para solucionar os problemas sociais, e sim para
produzir lucro ao mercado, e com isso, agravar ainda mais os problemas sociais
latentes. Paulatinamente, os grandes proprietários nacionais e os imperialistas
nos corrompem o conhecimento, ligando todo e qualquer avanço no campo
intelectual como um avanço para produção de capital privado internacional. O
ensino e a pesquisa, através da extensão universitária, deveriam contribuir
para socialização em massa do patrimônio cultural, histórico e científico
acumulado pela humanidade, fomentar o desenvolvimento social integral, e não o
mesquinho desenvolvimento econômico restrito a minorias empresariais.
É nesse cenário e nesse contexto da
existência da universidade no Brasil que falar em extensão faz-se extremamente
necessário. A sociedade brasileira mantém de pé as estruturas que possibilitam
a formação de profissionais para atuarem em diversas áreas do conhecimento, no
entanto, essa mesma sociedade, na sua extensa maioria, não utiliza-se dessas
vagas e nem ao menos é retornada no sentido de beneficiar-se da produção
acadêmica que é criada do lado de dentro dos “muros do saber”.
A extensão, dentro da universidade
inserida no atual sistema, tem a função de ser um exercício de comprometimento
social e político dos estudantes com o povo brasileiro que sustenta nosso
ensino público e de qualidade. A produção de conhecimento gestada na academia
tem que chegar aos mais necessitados, e isso se faz aceitando como provisório o
tripé ensino-pesquisa-extensão através desse último, quando os estudantes
indagam-se sobre a relevância do conhecimento produzido por eles, e respondendo
a que metodologias isso chegará a sociedade.
Extensão compreende o processo de “estender” a universidade a locais que ela não acessa, e isso deve ser tomado não como uma “invasão cultural” no sentido freireano, porém como um processo de contribuir para que a universidade cumpra sua função social e servias como uma ferramenta para a emancipação e soberania do povo brasileiro. Eventualmente essa atividade pode tomar contornos de prestação de serviço, o que não é ruim, visto que há necessitados e que faz-se uma obrigação daquela estudante que detém saberes técnicos contribuir com as necessidades do seu povo e da sua pátria. O que não pode ocorrer é a extensão ser “somente” prestar serviço, ou seja, ser uma ação desprovida de reflexão e de produção de um saber que sirva para emancipar aquela comunidade ou grupo social.
Para entender, melhor, o que se pede
com um MUP (Movimento pela Universidade Popular), citamos o camarada Glauco
Araújo, em texto produzido para este fim no GTUP:
“Pensar em Universidade implica necessariamente inscrevê-la no quadro mais geral da Educação, tanto como atividade formal prescrita através das instituições como também na sua acepção mais ampla. Também porque nos ajuda a “desfetichizar” a Educação como saída exclusiva para os problemas sociais da atualidade e recolocá-la na sua relação dialética com a sociedade e suas transformações.
Em se tratando de uma Universidade Popular, seria diferente? Seria ela o próprio lócus e/ou veículo da transformação? Se a resposta for afirmativa, parece-me que recairemos no equívoco analítico advertido por Marx. Todavia, o resgate do “bom velhinho” para esse debate elucida talvez nossa principal problemática atual: seria possível uma Universidade Popular sob o capitalismo?
Para responder a questão, parece-me importante recorrer à distinção entre Capitalismo e Capital sintetizada por Mészáros. O filósofo da Escola de Budapeste defende a tese de que o Capital surge antes do capitalismo, e como uma relação social nascente vai consolidar sua hegemonia apenas no decorrer das sucessivas revoluções burguesas que promoveram sua mundialização. O capitalismo – como forma de organização do domínio do Capital – pode ser derrotado politicamente através de uma revolução social. Contudo, isso não significa imediatamente o fim do Capital e sua lógica no domínio das relações estabelecidas entre os homens.
Em outras palavras, ele sugere que no período de transição a uma sociedade sem classes, que Marx e Engels chamaram de Socialismo, o Capital ainda tende a prevalecer como relação social – mesmo que sob controle de um Estado proletário. Mais ainda, sublinha que esse período de transição é aquele em que as classes exploradas, agora como classes politicamente dominantes, deverão atacar frontalmente o Capital. Se assim não o fizerem, não somente seguirão alienadas do processo de produção de suas vidas, como poderão facilitar o restabelecimento do capitalismo.
Nesse sentido, parece-me fundamental distinguir a Universidade Popular daquela que edificaremos numa sociedade sem classes. Aquela, dada sua intrínseca universalidade talvez prescinda até da alcunha “Universidade”. Esta se coloca como um momento necessário para pintá-la com as cores do nosso povo, como nos disse Che certa vez. Mais que isso, assume um lado na luta de classes e se coloca como parte do bloco histórico dos explorados.
Se realiza sob o capitalismo? Talvez sim, com a condição de ser parte do processo revolucionário de sua derrocada, no qual o atual modelo de sociedade já caduca e a Universidade Popular irrompe ajudando a anunciar o novo. Sendo assim, para além da tática adotada em cada curva da conjuntura, coloca-se como um projeto estratégico na plataforma dos que buscam uma associação de indivíduos livres. Todavia não é suficiente, pois a tal Universidade para além do Capital, essa segue sem nome e nem mesmo a imaginação mais criativa pode prever o que será.”
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Estudantes proletários da Guarda Vermelha da China. |
Assim sendo, nossa luta esta para além
de um movimento estudantil sem consciência de classe ou, a exemplo do que
costuma acontecer, um movimento estudantil pequeno-burguês. Afirmamo-nos
enquanto proletários e queremos um movimento estudantil pró-proletariado. Não
recuaremos um único passo na luta por um movimento estudantil atuante e sempre
em prol da classe trabalhadora, contra os grandes proprietários e imperialistas
que exploram os frutos das pesquisas dos filhos do proletariado brasileiro
para, assim, explorar ainda mais o trabalhador brasileiro.
Por uma Universidade com consciência popular!
Não temos nada a perder a não ser nossos usurpadores.
Por uma
Universidade Popular, classista e proletária.
À Unidade!