segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Caso Mensalão; mero conflito interburguês, mas que pode avançar sobre as organizações e partidos de esquerda.


Recentemente foi noticiado, e a mídia deu grande cobertura, para o julgamento do caso mensalão. Mas para qualquer bom entendedor do assunto – ou no mínimo, aos militantes de esquerda ‘não retardados’ – ela fez muito mais que noticiar e cobrir. Para entender melhor o caso, é preciso recapitular algumas informações, e relembra-las organizadamente. Em resumo, o que seria o mensalão? Qual seu propósito? Qual o caráter do governo PT e de suas políticas? Essas informações ou dados devem ser levadas em conta.




Informações e dados importantes

• Mensalão: Em resumo, Mensalão é nome dado pela grande imprensa, ao caso de denúncia de corrupção política, mediante a compra de votos parlamentares no Congresso Nacional do Brasil (entre 2005 e 2006). Nessa denúncia, situavam como protagonistas integrantes do governo de Lula, e membros do PT (Partido dos Trabalhadores).

• Caráter da gestão do PT: Bom, ao contrário de gerências de esquerdas mais ofensivas, tal qual a esquerda Venezuelana, o PT, pelo contrário, se caracteriza por dirigir uma gerência de conciliação entre trabalhadores e burguesia, e muitas vezes nem de conciliação, mas somente pró-burguesas mesmo, como nos inúmeros casos que o PT tomou posturas apenas em prol dos grandes empresários, banqueiros contribuindo para sucatear ainda mais a condição da classe trabalhadora brasileira. Isso sem contar na dívida pública – que é um roubo do nosso dinheiro efetuado pelos bancos – que o PT nem sequer ousa em combater, talvez, porque tenha também o rabo preso com os bancos. O PT então, não dirige uma gestão com caráter de esquerda, ou caráter socialista, pelo contrário, sua gerência é de caráter burguês, e no máximo circunda “da direita ao centrismo, do centrismo à direita”. Sua gestão não faz esforços para romper a limitada governabilidade burguesa que partidos como PSDB, PMDB e etc., também fazem parte, caindo no velho presidencialismo de coalizão.



Problemáticas da gestão PT; um pouco de sua história e atualidade

O PT é fruto do vácuo político criado pela repressão fascista implementada pelo Regime Militar aos partidos comunistas tradicionais e aos grupos de esquerda armados. Surgiu em boa parte, espontaneamente, com o movimento dos trabalhadores, em meio a esse “vácuo”, e nasceu e cresceu mais ou menos como uma “mistura”, entre vários agrupamentos que se reivindicavam trotkistas (lembrem-se que o PCO, PSTU, e diversas tendências do PSOL vieram do PT) [1], conjuntamente com movimentos socialistas cristãos, com grupos de socialdemocratas e reformistas, e principalmente com o movimento sindicalista do tempo do Regime Militar e na “redemocratização”. Talvez se tenham mais indivíduos e grupos mais variados que esses, mas esses são os setores mais significativos e mais fáceis de lembrar no que se refere o processo de nascimento e crescimento do PT.

Como vemos, nunca foi um movimento homogênio, sempre se caracterizou por ser um partido “repartido” em “vários partidos” (i.e, em várias correntes e tendências internas), cada qual, seguindo seu segmento ideológico específico e tendo suas análises próprias sobre a conjuntura. Mas apesar de diferentes, tinham consensos em alguns pontos mais gerais, afinal, se organizaram nessa mesma “coligação” denominada de Partido. E ainda que se considerasse ele um “re”partido, haviam setores de dentro do PT que tinham mais influências que outros. No seu inicio, esses setores mais fortes internamente no PT eram setores mais combativos que o PT de hoje, que parecia ter ainda alguma convicção ideológica, metas, um programa político e etc., a exemplo do PT pré-1989[2], que tinha como corrente majoritária na época, a Articulação.

Mas essa organização nascida das bases – pelo e para o dialogo com as bases – não se manteve, sobretudo, após lograr os cargos do governo federal. O PT com o tempo foi mais e mais se prendendo as imposições e limites da governabilidade burguesa, e se adentrou nas amarras do presindencialismo de coalizão. Como disse Mauro Iasi, esse foi o maior equivoco do PT [3]. Havia outro caminho, que não foi seguido – por incompetência ou oportunismo (ou os dois), e este caminho não se situava no parlamento e nos limites da governabilidade burguesa, mas sim consistiam nos movimentos sociais e na organização autônoma da classe trabalhadora. Essa opção levaria a um governo de tensões, e intensificaria a luta de classes, caminho descartado pelo PT. “A opção pela governabilidade com base na ‘adesão’ (compra) de partidos implicou na aceitação tática e explícita dos meios necessários para isso que agora são julgados como imorais e ilegais (e são).” [4].



Conflito entre o PT e o resto da direita não são um conflito entre esquerda e direita, mas um conflito “Interburguês”;
oriundo da disputa pela representatividade da burguesia no Estado

Fica bem claro que, ainda que surgido se aproveitando do movimento espontâneo dos próprios trabalhadores, o PT não tinha uma direção firme e bem centralizada – e ainda menos, uma direção revolucionária. Apesar de ter tido épocas, de grande agitação e combatividade, o PT nunca teve um núcleo dirigente homogêneo, firme e bem acertado ideologicamente (no que concerne a teoria revolucionária). Se qualquer partido de esquerda estará sujeito a provações e desafios nas entranhas do sujo parlamento burguês, como um partido sem foco e sem um núcleo dirigente revolucionário firme, conseguiria se manter como expressão real das reivindicações da classe trabalhadora brasileira? Quais garantias se tinham? O que garantia que o PT não se afastaria dos movimentos sociais e dos trabalhadores, caso se adentrasse na política institucional (governabilidade burguesa) como ele entrou? Absolutamente nada.

Os anos se passaram, e essa governabilidade burguesa que o PT está inserido os incutia ainda mais o PT às posturas e práticas em prol das classes abastadas e em prejuízo da classe trabalhadora brasileira.

Todos sabemos que o banco é um dos maiores inimigos do trabalhador, “instituição-mor” do burguês no capitalismo financeiro. E segundo o próprio Lula – que esbravejou com muito orgulho – os bancos nunca lucraram tanto no Brasil como no governo PT. Se pararmos para analisar a situação da classe operária, coisas nada boas hão de se ver. O PT ao invés de trazer benefícios a toda a classe operária brasileira, somente criou uma aristocracia operária: uma quantidade certa de operários com certos privilégios, que os faz distanciar (na consciência de classe) do resto da classe operária e trabalhadora, enquanto que muitos outros trabalhadores dessa categoria, sobretudo os terceirizados e irregulares, continuam na mesma condição horrível de outrora.
A condição da classe operária e trabalhadora melhorou? Se você perguntar a certo operário regular onde eles ganham até mais que o dobro ou triplo de um professor, sim. Se for além das aparências, na classe operária e na trabalhadora como um geral, não.

Podemos também nos lembrar das infinitas promessas do PT, antes de lograr chegar ao governo, em relação a Reforma Agrária. Se pesquisarmos e lembrarmos mais ainda, veremos que durante o governo do PSDB o Brasil teve “mais reforma agrária” (o processo de “distribuição de terras”) que no próprio governo do PT. Também podemos lembrar do movimento das Fábricas Ocupadas, que dentro desse movimento, operários mantém a ocupação mais longa da história, onde a mais de 10 anos, ocupam a fábrica Flaskô (fábrica ícone do movimento), e eles vem nesses mais de 10 anos exigindo do governo PT a estatização das fábricas sob o controle operário. Vários dos dirigentes dessa ocupação são, inclusive, ligados a bases de trabalhadores do PT, que quando viram o operário se eleger presidente entraram na esperança dele estatizar as Fábricas Ocupadas. Passou-se mais de 10 anos, sendo 8 anos da gestão do operário, o Lula, e nada. Os trabalhadores das fábricas ocupadas ligadas ao PT se viram numa decepção tamanha para com a gestão do PT no governo federal, e até hoje se veem.

Apesar do PSDB ser o símbolo entre os partidos em relação a privatizações, o PT não fica lá muito atrás. Durante o PT, houve a privatização de aeroportos, estradas, e até do petróleo do Campo de Libra. Foi durante a gestão do PT que o partido foi complacente a alta repressão policial feita contra os movimentos sociais, e não só foi complacente, como colaborou, colocando a Força Nacional para reprimir os manifestantes contra o Leilão de Libra, bem como no maracanã no final da copa das confederações. Aqui, jaz por terra, qualquer resquício da esquerda ou de progressista que o PT algum dia teve.

O PT se perdeu nesse comboio podre da governabilidade burguesa, e hoje é só mais um dentre tantos partidos que defendem os interesses das classes abastadas. Em termos práticos, uma gerência governamental de direita. Hoje é um partido de representatividade política burguesa. Tendo a compreensão desses fatos, podemos entender que, os conflitos que circundam o PT e os outros partidos burgueses não são – ao contrário do que falam militantes alinhados ao PT – um conflito no âmbito entre burguesia e trabalhadores, ou entre direita e esquerda, mas um conflito, tão somente, entre partidos que disputam a representatividade da burguesia no Estado, e buscam representar a burguesia cada um a seu modo, tal qual o PT a representa com uma cara vermelha, e postura azul. O PT hoje é a expressão de um tipo de organização política que a burguesia também demanda em vários momentos desses tipos de partidos vermelho-azul, ou melhor, operário-burguês (base operária, direção pró-burguesa).

Os atritos que circundam o PT e a direita – direita essa que o PT hoje faz parte (discreta ao seu modo) – são meramente conflitos políticos no seio político da própria “burguesia política”. O caso mensalão, e as investidas contra o PT só representa somente o mais repercutido conflito Interburguês* que o PT está inserido.

Há um trecho de uma nota do PCO que nos esclarece bem a compreensão de que se trata de um conflito Interburguês, e tão somente na disputa pela representatividade burguesa:

“Primeiramente, é evidente que a direita não tenta “se aproveitar ao máximo do escândalo”, mas sim que foi ela mesma quem trouxe a questão a público, que a investigou, que a transformou, por meio da imprensa, em uma questão política central junto à população. Em segundo lugar, dizer que o julgamento é uma farsa não significa dizer que não existiu o mensalão. Em terceiro, as lutas políticas em torno do julgamento não anulam o escândalo; o próprio escândalo é produto da luta política. [...] Os escândalos de corrupção no Brasil, assim como os escândalos sexuais na Europa e nos Estados Unidos, não vêm simplesmente à tona, como resultado da boa intenção ou da sorte de um jornalista qualquer. Todos eles são resultado de uma luta política com interesses bem definidos. Como analisamos na época, o escândalo do mensalão foi a maneira que a direita encontrou para minar o plano de José Dirceu de transformar o PT de principal partido de sustentação do regime em um eixo do funcionamento do regime, com a ampliação de seus quadros com a incorporação de ainda mais setores da burguesia dentro do PT e com a criação de uma ampla base nacional nos municípios. Se bem sucedido, esse projeto poderia ter alijado completamente o então PFL e o PSDB do poder.” (trecho de nota do PCO sobre o caso do mensalão).



Os ataques da Imprensa Burguesa ao PT
não fazem dele um partido genuinamente operário e de caráter socialista

A Imprensa Burguesa é uma das fontes de informação menos confiável possível. Isso é um consenso entre os militantes e ativistas. Que a mídia manipula não é novidade. Mas só porque determinado canal, ou determinado programa jornalístico falou mal de certo partido ou de certo político não quer dizer necessariamente que ele é uma ameaça iminente a ordem capitalista, nem que ele é uma ilustre figura da esquerda que merece ser ovacionada. “A mídia falou mal dele, então é uma boa pessoa”. Não.

A questão central é que, determinados canais de imprensa se deixam ‘guiar’ – ou se vender – por determinados grupos e partidos políticos mais específicos. A Imprensa Burguesa pertence a determinados empresários e corporativistas que tem interesse na política. Logicamente, eles vão buscar, enaltecer noticias e matérias que enalteçam os “méritos” dos políticos que representam os interesses do seu setor ou classe, e amenizar ou omitir qualquer notícia que possa “queimar o filme” deles.

Mas é fato que, dentro das classes abastadas (i.e. dentre os exploradoras), há certas divergências e interesses diversificados no que se concerne os rumos políticos do país. Posso citar, por exemplo, no estado de Pernambuco: o jornal impresso Diário de Pernambuco tem um histórico de teor mais Jarbista [5] e tece críticas ao governo estadual mais que qualquer outro jornal imprenso de grande porte, enquanto que outros jornais são mais alinhados a linha do PSB e de Eduardo Campos (governador de PE) que omite os feitos negativos do PSB e publica mais matérias com seus “méritos”. Mas tanto o PSB de Eduardo Campos, quanto o PMDB de Jarbas, são partidos políticos que trabalham mediante interesses de classes, e ambos, ao contrário de representarem uma ameaça a podre ordem vigente, implementam políticas em prol dessa ordem e em prol das classes já privilegiadas, e da mesma forma, os jornais que os seguem, igualmente. E isso vai além dos jornais impressos e locais.

O fato de a Imprensa Burguesa em geral ter feito o que fez com o caso do PT e do Mensalão, enquanto que não fazem nada para casos de corrupção “colossalmente” maiores – feitas por partidos como o PSDB – não significa que o PT se situa autenticamente na esquerda.

O fato de seletivamente só se focarem em denegrir a imagem do PT, não significa que o PT é um partido puramente operário e de caráter socialista. Significa somente, que os proprietários desses meios de comunicação que denigrem o PT, defendem outros partidos burgueses em detrimento do PT, tal como, no exemplo que citei, onde o Diário de Pernambuco tece ataques mais ousados a Eduardo Campos, mesmo o Diário e Eduardo Campos, defendendo praticamente as mesmas classes privilegiadas.



O porquê da Imprensa Burguesa
fazerem esse “surdunço” todo com o Mensalão

O fato dos controladores da Globo, da Veja, e dos principais jornais do país atacarem o PT, não faz do PT menos direitista do que ele é hoje, nem “mais próximo” da esquerda (esquerda essa que o PT não faz parte). Mas isso ainda não nos deixa muito claro as motivações de toda essa “cobertura midiática” enfática nas ofensivas contra o PT.

O STF pune sem provas, e pune, desta forma, impune, risonho e reacionário” [6]. Mesmo que, por exemplo, Zé Dirceu e Genoino sejam dois traidores do movimento dos trabalhadores, e pessoas chaves no processo de degeneração do PT, a prisão dos dois, não é uma vitória da esquerda e do movimento comunista, não foi motivada por conta de seus reais erros, não foi conduzida pelos revolucionários e pela esquerda, e nem muito menos motivada por razões ligadas a luta de classes e a seus reais crimes e erros cometidos contra o povo.

As sentenças deles foram conduzidas e motivadas por questões à direita, suas prisões nem sequer foram mediante provas, e claramente foram efetuadas mediante pressão midiática, numa simples disputa pela governabilidade burguesa.

Eles não estão sendo punidos por desvirtuarem o movimento comunista, mas somente por acharem que poderiam pisar no terreno da governabilidade burguesa, fazer o que todo típico partido burguês faz, e achar que vai sair impune por que não denunciou os podres dos outros partidos burgueses. Como disse Mauro Iasi: “Ele apenas atuou pelas mesmas regras que sempre se atuou no presidencialismo de coalizão, da mesma forma que os governos do PSDB, DEM e PPS, assim como o histórico fisiologismo do PMDB, sempre governaram. Seu engano entre tantos, foi supor que tinha sido aceito no clube e receberia as mesmas prerrogativas que seus pares mais tradicionais. Acreditou que pelo fato de não abrir a caixa preta do governo FHC e expor as entranhas dos atos ilícitos ali praticados, não diferentes daqueles pelos quais foi julgado, ele seria poupado, numa espécie de crença ingênua de “amor, com amor se paga”, tendo que cantar, ao final, uma samba amargurando: “você pagou com traição, a quem sempre lhe deu a mão”.”.

Integrantes do PT esbravejam “é momento de se reter e não criticar o PT, porque é perigoso” (?), e que “o PT e Dilma poderiam sofrer um golpe provindo da direita” (?!). Estão vendo pelo em ovo. Não se trata de tentativa de golpe pra tirar a presidente Dilma, o PT e seus encargos no Estado. Como eu já falei, a burguesia inclusive precisa, em vários momentos de um partido operário-burguês (i.e. com base operária, direção pró-burguesa). E vale lembrar, que Dilma continua praticamente intacta nas pesquisas de voto. A classe trabalhadora ainda, de certo modo, se enxerga no PT. Não houve – nem ainda há – um partido revolucionário construído que tenha condições de dar fim ao ciclo do já “degenerado” PT, e cumprir esse papel histórico no movimento comunista brasileiro.

Então, se a intenção da burguesia não é derrubar abruptamente a Dilma e tirar o PT totalmente do jogo, qual seria? Qual a intenção da mídia corporativista e da direita nessa “demonstração de Poder”? Qual intenção da imprensa burguesa nisso? A pressão midiática quer queira quer não, consegue colocar o PT num certo “cabresto”. Então, “deixar claro ao PT qual classe que manda no pedaço”. Fazer a opinião pública pressionar o PT a tomar as posturas que cada vez mais beneficie uma classe privilegiada (i.e., fazer a opinião pública empurrar o PT à direita).

E é notório que a burguesia não está meramente se aproveitando da situação, ela CRIOU essa situação. Não só pelos propósitos já citados acima, como também para outros.

O Mensalão, na prática, não foi nenhum desvio de dinheiro público ou algo do tipo, não foi um roubo direto no bolso do trabalhador brasileiro. Foi a construção de um caixa, edificado com dinheiro de empréstimos feitos a bancos privados, para a compra de votos parlamentares. Mas a imprensa burguesa não deixa claro e nítido isso a população, e a coloca de modo que faz o povo pensar que é um roubo qualquer ao dinheiro público. Essa prática era muito mais corriqueira e comumente usada durante do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas o caso mensalão, dentre todos os casos de corrupção mais conhecidos, é um dos menos graves. Apesar disso é o que é mais propagandeado pela grande imprensa.

O propósito de tornar o mensalão um caso símbolo da corrupção brasileira, além de colocar certo cabresto ao PT (para mantê-lo na linha política pró-burguesa), é de ofuscar os outros crimes, muito mais graves, e muito maiores, feitos pela burguesia e pela direita política, cometidos contra o povo brasileiro. Tira o foco de questões mais importantes, e faz o povo brasileiro não parar para refletir em casos como a absurda dívida pública, que funciona como um mecanismo dos bancos roubarem quase 50% de todo imposto arrecadado. Enquanto você se distrai com o mensalão que não chega nem a 0,5% (meio por cento, sendo até pessimista) de nosso dinheiro, os bancos te tiram 50% do bolso sem ninguém perceber.

Além da dívida pública, a compra de voto parlamentar feita no governo FHC se mantém abafada pela mídia. Isso sem contar o propinoduto que coloca o mensalão no chinelo. Lembremos agora dos 4,3 milhões desviados e tirados da saúde pública pelo Aécio Neves, que calculando se aproxima de 72 mensalões. Mensalão mineiro, mensalão do governo FHC, desvios colossais de dinheiro, a dívida pública que é um desvio astronômico de dinheiro por si só. Isso sem contar os outros casos de corrupção, que são cometidos em prol da burguesia, mas são amplamente abafados pela mídia.

Como podemos ver o propósito da mídia com isso, é tão somente, desviar o foco e criar uma distração no povo, para a classe trabalhadora não se nortear para os verdadeiros crimes cometidos contra o povo; bem como, apertar o cabresto sobre o partido operário-burguês do PT; e também de gerar essa apatia de generalização política “que todo partido e político (sobretudo os de esquerda) são igualmente corruptos”, uma apatia e generalização que leva a inércia, após a midiatização de escândalos públicos orquestrados pela própria direita.



Da maneira que se deu a prisão de Dirceu e Genoíno, elas são vitórias da direita;
a nova maneira de sentenciar e punir pode atingir toda a esquerda (i.e. âmbitos além do PT)

Não podemos esquecer, que independente do PT não ser partido genuinamente de esquerda, e dele ter adentrado no campo da “burguesia política”, a prisão de figuras como Genoíno e Zé Dirceu, se deram sob condições que podem ser repetidas na prisão de qualquer outro integrante de partidos de esquerda – falo partidos realmente de oposição.

Da maneira que prenderam Zé Dirceu e Genoíno podem prender qualquer pessoa mesmo sem provas, é só ter: a) uma acusação, b) pressão midiática. O martelo que dará a sentença não será o do juiz, mas tão somente o da imprensa.

Da maneira como o processo ocorreu, na prisão de políticos mesmo havendo ausência de provas, qualquer militante de esquerda poderá sofrer futuramente com esse tipo de arbitrariedade implementada pela burguesia. Por isso, apesar deu partilhar da visão de que, Zé Dirceu, Genoíno e os inimigos de classe que estão na direção do PT, devem passar por um tribunal revolucionário para apuração de seus crimes cometidos contra o povo brasileiro, tal quais suas traições no movimento comunista e dos trabalhadores ainda sim temos de admitir, que a prisão do Zé Dirceu e do Genoíno, da maneira como foi feita, e pelas pessoas que a guiaram, foi uma vitória da direita!

O teste foi feito: “A burguesia testou um ‘experimento social’: prender políticos somente por meio da pressão midiática, punindo e prendendo pessoas, mesmo com a ausência de provas (o que a lei teoricamente não permite). Certas figuras ligadas ao PT serão as cobaias desse teste. Se esse teste der certo, provavelmente poderá se fazer isso com os outros partidos, inclusive com os situados bem mais à esquerda que o PT e o governo federal”. Realmente, o teste foi feito, e foi bem sucedido: as coboias estão presas.

Muitos partidos, por “sentimentalismos” e richas partidárias com o PT, deixaram seu revanchismo subir o sangue do cérebro ao ponto de não avaliarem a situação com precisão, tal como muitos setores do PSOL, que não conseguiram avaliar essas questões a partir de uma perspectiva da luta de classes. Para essa situação, vale citar isso aqui:

No texto intitulado “Exigir o fim de todas as quadrilhas políticas”, Luciana Genro defende a condenação do PT pelo STF, substituindo o método da luta de classes por uma visão moralista do processo político e acabando no endeusamento das instituições do regime burguês reacionário e pró-imperialista e na conivência com as arbitrariedades do Estado. [...] “Condenados por corrupção ativa e formação de quadrilha, agora querem se passar por vítimas, como se fossem perseguidos políticos ou condenados sem provas”. Para ela, se foram condenados é porque são culpados e se são culpados, não podem ter sido perseguidos ou condenados sem provas, afinal a “justiça foi feita”, não importa a que custo. Não. [...] Mesmo os piores criminosos podem ser vítimas de arbitrariedades no processo judicial e ao escolher a sua condenação em lugar de seus direitos, o que se está defendendo é o fortalecimento do poder do Estado repressor e capitalista, pois é disso que se trata. A punição de um criminoso não vai acabar com o crime no País, mas aplaudir que a mais alta corte brasileira passe por cima dos direitos do cidadão dessa forma, na melhor das hipóteses, abre um precedente perigoso para toda a população. [...] quando diz que o voto de Joaquim Barbosa “cumpriu importante papel para sepultar falácias” e argumenta “ou alguém duvida que José Dirceu tinha o completo ‘domínio dos fatos’?”, Luciana Genro nada mais faz do que dar seu aval a uma operação jurídica que pode ser usada contra qualquer líder sindical em uma mobilização ou qualquer dirigente de organizações que desagradarem o governo. Na prática, o STF aboliu a presunção de inocência e instituiu que vale a opinião do juiz, não as provas. Basta o juiz achar que o réu é criminoso, basta a imprensa martelar todos os dias que tal e qual pessoa é culpada de algum crime para que sejam condenadas. [...] Assim, o PSol concorda e faz coro com a campanha da direita de que o STF é o último reduto de moralidade do regime político brasileiro, o único à prova de corrupção. [...] O que a indicação desses ministros pelo PT comprova, na realidade, é o caráter puramente político do julgamento, pois é óbvio que os juízes traíram a confiança daqueles que os indicaram e bandearam para o lado oposto. Isso fica claro para qualquer pessoa dado o enorme lobby da imprensa capitalista para condenar os dirigentes petistas. Os juízes faziam parte deste lobby e nada mais.” [7]

É transparente como água, o fato, de que, essa nova maneira de sentenciar, e essa acentuação das arbitrariedades jurídicas por motivos políticos, foi feita sob a intenção de se agravar e avançar contra as demais organizações de esquerda. Outra organização que segue uma linha parecida e muito dissociada da realidade, acerca de casos como o mensalão, é o PSTU, pelos mesmos motivos, que certos setores do PSOL: sentimentalismos e richa. Como sabemos o PSTU outrora foi uma tendência do PT, e como a saída do PT não foi nada amistosa, o PSTU se encontra na mesma problemática de picuinhas e análises mal feitas, ofuscadas por conta de suas picuinhas revanchistas ao PT. Complementando essa questão, não somente de denunciar as erronias posturas de certos setores do PSOL e do PSTU, mas também de entender que houve motivações políticas no caso do mensalão:

“Ao comparar o caso do mensalão com os escândalos de corrupção do PSDB, Luciana Genro diz que “a impunidade de uns não justifica a impunidade de outros”. Isso é certo, mas não é disso que se trata. O fato de a corrupção do PSDB não ter ido a julgamento na época de FHC e continuar sendo abafada inclusive agora não justifica a corrupção do PT, apenas mostra que o processo contra o PT não diz respeito à corrupção e sim a uma disputa política, que é um julgamento político e não criminal e é justamente este fato que a deputada do Psol quer encobrir. O problema é justamente que para vencer a disputa a direita não hesita em passar por cima de qualquer mecanismo democrático e pisotear as garantias dos cidadãos, fato que não pode ser aplaudido em nome de que “um corrupto foi punido”, pois não só ele será um dos únicos, enquanto muitos outros nunca serão punidos, como que a arbitrariedade contra ele será usada futuramente contra toda a população.” [8]

Conclusão; afastar a neblina de ofuscação política que paira nas mentes do povo

A conjuntura nos dar tempo para pensar e refletir, mas não podemos nos dar ao luxo de tomar posicionamentos errados em momentos delicados como esse. Organizações com leituras tão discrepantes da realidade, isso é, dissociadas de uma perspectiva da luta de classes, como foi a análise da Luciana Genro do PSOL e as análises e postura do PSTU, só é prejudicial a esquerda. É necessário que os agrupamentos de esquerda que tenham posicionamentos próximos a análises erronias “romam com o STF”, e deixem de achar que o STF não é uma instituição burguesa, livre de corrupção, que exercerá um julgamento imparcial, "reduto da moralidade e do que é certo".

É necessário que a esquerda abra o olho, para o aumento “qualitativo” e quantitativo das arbitrariedades – já existentes – contra o povo pobre e contra os militantes sociais de esquerda, onde essa nova maneira de sentenciar (que pretende-se ser utilizada contra a esquerda) se expressam em casos como esse do julgamento do caso Mensalão. Mas apesar disso, não podemos ter ilusões quanto ao PT e os agrupamentos que circundam suas práticas, como é o caso do partido da bancada ruralista P”C”doB (Partido ‘‘‘‘Comunista’’’’ do Brasil) – que de comunista não tem nada. Tal como, ter ciência que o julgamento foi uma farsa e foi um julgamento político, não quer dizer que o mensalão nunca existiu, nem nunca foi feito.

Compreender que o caso do julgamento enfático contra figuras do PT, sim, foi uma questão política e não jurídica, e foi pautado mediante pressões midiáticas, não implica dizer, que devemos concordar que o PT é um partido revolucionário, ou que devemos seguir a linha de tentar justificar a ida do PT à lama do pântano com afirmações como “escolho o PT, porque é o menos pior dentro do leque de opções". Ora, menos pior? No máximo o menos pior dentre o leque de partidos burgueses, e não dentro da esquerda! Isso seria uma posição conciliadora, e a conciliação de classe é pró-burguesa, afinal, os objetivos da burguesia e do proletariado são diametalmente opostos e seus interesses enquanto classe, antagônicos e irreconciliáveis”.

Então, sem mais delongas: não esqueçamos dos verdadeiros crimes de tais figuras do PT. Não nos distraiamos com um escândalo político conduzido pela mídia e pela direita. Nossa tarefa é afastar essa neblina de ofuscação política que paira sobre os jornais burgueses e sobre as mentes do povo brasileiro. Nossa tarefa é, além de enxergar os reais problemas, fazer a classe trabalhadora também enxerga-la.
- B. Torres

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Notas:

* - Interburguês, conflitos políticos entre representantes políticos da burguesia.

[1] – O PCO, PSTU e as várias tendências do PSOL são partidos e grupos que se reivindicam trotkistas que eram do PT e hoje formaram partidos autônomos, no entanto, no PT ainda se tem muitos agrupamentos trotkistas que ainda não saíram, tal como as correntes denominadas O Trabalho, Democracia Socialista, Esquerda Marxista e dentre outras.

[2] – Nessa época o PT era dirigido por setores mais combativos, que inclusive conseguiam guinar (centralizar) o Lula mais à esquerda. É só comparar como quando naquela época o Lula falava em socialismo em meio a seus discursos inflamados, diferentemente de hoje que fala, “não sou de esquerda, sou torneiro mecãnico.”, ou mesmo coisas como “Se você conhece uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque está com problema”. Essa postura naqueles anos passados se deve a postura da tendência majoritária do PT daquela época.


[4] – Menção a posicionamentos do Mauro Iase.

[5] – Teor Jarbista significa que o Diário de PE é um jornal mais alinhado as orientações políticas de Jarbas Vasconcelos do PMDB, atual Senador de Pernambuco, e no âmbito local, se situa moderamente à direita de Eduardo Campos.

[6] – Leonardo Nürnberg