Primeiramente,
não existe neutralidade na política. É de um tremendo absurdo os que tentam se
aproveitar politicamente desta tragédia, negando que antes o taxavam de
"coronel fascista", minimizando o que representou de ruim para o
nosso povo, se valendo de certa comoção pública para redimir o legado de
Eduardo Campos, dizendo que foi uma "perda política" para o país.
Quem enxerga deste modo, ignora que não existe uma "política" geral e
abstrata comum aos interesses de todas as classes. A "perda política"
no que tange à morte de Campos foi para as classes que ele representava, ou
seja, para os banqueiros, para os latifundiários e para o grande capital. A
classe operária, os movimentos sociais combativos, que sempre foram reprimidos
pelo ex-governador, nada devem lamentar politicamente, mas tão somente se
solidarizar com a dor das famílias tal qual devem se solidarizar com a dor das
famílias de TODAS as vítimas deste trágico acidente.
É
um tremendo erro comemorar esta morte, pois ela longe de representar um ato de
justiça popular, partiu de um trágico acidente, inclusive vitimando várias
pessoas, e que certamente NADA contribuirá para o avanço político das classes
trabalhadoras, mas ao contrário, irá contribuir para elevar a
"mártir" o ex-governador, facilitando a vida de seus aliados
políticos que se servirão da comoção pública frente a este trágico acidente
para fazer avançar seus projetos políticos reacionários e antipopulares.
Por
fim, a classe operária e os lutadores de esquerda nada tem a chorar por esta perda,
pois Eduardo Campos nunca foi seu representante, nunca defendeu seus
interesses. Lamentamos esta tragédia como qualquer outra tragédia e sentimos
pela dor que este acidente inesperado causou. Mas jamais deixarei de combater o
legado de um governo que foi responsável por reprimir os movimentos sociais e
defender os interesses dos ricos e poderosos. A morte não apagará jamais o
legado de ninguém, e quem é militante político deve prezar pela sua coerência e
manter bem alto seus princípios revolucionários, negando qualquer vacilação na
hora de julgar politicamente o legado de seja lá quem for.
Lamento
o acidente trágico, a dor dos familiares de todos os envolvidos, e ainda mais
as nefastas consequências políticas que isto poderá proporcionar (e de certa forma
já estão proporcionando). Entretanto, politicamente, jamais poderemos
considerar que "perdemos" alguém que nunca nos representou, nunca
defendeu os interesses da classe trabalhadora e teve na repressão e terrorismo
policial a expressão última de seu governo no estado de Pernambuco.
— R. Dantas