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*Bruno Torres é fundador e Comandante-Geral da Unidade Vermelha |
Por Bruno Torres*
1. O
movimento é marcado, internamente, pela luta contra os desvios de direita e ‘de
esquerda’.
Toda a história de luta dos
revolucionários no mundo é marcada, internamente, pela constante luta contra os
desvios de direita e de esquerda
dentro do movimento revolucionário.
Essa luta não é algo recente,
e mesmo nos países que passaram por processos revolucionários (tomada de Poder),
as lutas contra o oportunismo de direita e contra o oportunismo de esquerda
ainda continuaram a ser travadas. Autênticos revolucionários devem admitir
esses impasses e obstáculos por quais nós vamos passar – e sempre passaremos –
para não ofuscar nossa trajetória política rumo à vitória de nosso povo.
Aqueles que negam estas disputas no seio do movimento corroboram para que os
lutadores sociais guinem ao pântano!
Para uma discussão frutífera,
antes de tudo, é bom que não restem dúvidas em nada, nem na definição
conceitual de “esquerdismo”. O que é então, esquerdismo? Esquerdismo, como nos disse Lênin, em parâmetros
político-ideológicos, se trata da “esquerda
da esquerda”, isso é, ter posições principistas ou extremas à esquerda,
posições estreitas, e etc. por sua vez, o oportunismo de direita é justamente quando se abre mão dos princípios
revolucionários se adaptando ao regime democrático-burguês.
É importante estarmos sempre
cientes de quais desvios estão em determinados momentos mais fortes e mais
expressivos, bem como menos expressivos. Só assim, os revolucionários poderão
avaliar em cada momento político quais desvios estão mais neutralizados ou não,
quais problemas estão mais gritantes ou menos, e etc., dentro do partido e do
movimento, e com isso quais problemas devem ter maior atenção e preocupação
nossa em distintos momentos.
2. O
momento político no Brasil
No Brasil, a situação
política também requer mais do que nunca nossa reflexão sobre esse assunto.
Há alguns anos, com o
declínio das gestões neoliberais do PSDB veio a esperança num governo popular e
progressista encabeçado pelo PT. As classes mais oprimidas do Brasil se debruçaram
em apoiar o PT na expectativa de que um governo encabeçado por tal partido
resolveria os recorrentes problemas oriundos das contradições de classe – e das
ingerências imperialistas – no nosso país.
A verdade é que, vastas
camadas das classes menos abastadas, sobretudo da classe operária, e camponeses
sem-terra que geralmente se organizam no MST, rumaram a apoiar esse “projeto”
do PT, e nisso, boa parte dos partidos políticos de esquerda também se
mostravam dispostos a apoiar o PT. O que obviamente de nenhuma forma é
incompreensível.
Acontece que após três
mandatos, a gestão do PT se demonstrou apenas ser uma forma mais “sutil” de
Governo neoliberal, sem realizar importantes mudanças no quadro econômico do
país. E hoje, podemos dizer que, a cada dia mais, as semelhanças entre PT e
PSDB vem se tornando cada vez maiores. Nesse sentido, o PT, ao não avançar no
acirramento da luta classes (pelo contrário, buscou conciliar os antagonismos
de nossa nação) vem gerando um crescimento da apatia pela política nas massas que antes estavam mobilizadas.
Entre os partidos e coletivos
de esquerda, isso também trouxe consequências. Um afastamento das agremiações
de esquerda do PT, que aos poucos passou a não vê-lo mais como alternativa ao
neoliberalismo (afinal, o PT estava sendo uma continuidade do neoliberalismo).
Saídas em grande número de dentro da militância de base do próprio PT, criação
de novos partidos, e etc. A questão é que o PT cada vez mais se “perde” em
alianças com figuras como Sarney, Maluf e com partidos como PSC, PP, PMDB e
etc. E cada vez mais outras agremiações se afastam, algumas mantendo desvios
como o Reformismo, Eleitorarismo (o
PSOL sendo o maior exemplo disso) e entre outros desvios. Mas o fato é que nem
todas as agremiações que estão cada vez mais se distanciando do PT mantém tais vícios
e desvios altamente nocivos a luta, e identificar os desvios de direita no seio
do movimento revolucionário hoje (mesmo com a confusão político-ideológica que
o PT trouxe há anos nos movimentos sociais) é mais fácil do que há anos atrás.
É preciso
sempre lembrar de uma máxima muito recorrente no meio revolucionário, que diz
que “A forma mais efetiva da classe operária perceber que a socialdemocracia
não está por ela, é a classe operária perceber com a própria prática da
socialdemocracia que ela está para a classe dominante, quando os reformistas
encabeçam um regime burguês”. Historicamente, essa assertiva tem se demostrado
correta, tomando como principal exemplo inclusive o processo revolucionário russo,
onde os "moderados" puderam facilmente serem desmascarados quando, no
governo, não foram capazes de levar adiante as medidas essenciais exigidas
pelas massas cada vez mais radicalizadas.
Pois bem, a esquerda e a
classe trabalhadora no Brasil tem percebido cada vez mais que o PT não está por
eles. Desmascarar o oportunismo (de direita) depois de anos da gestão burguesa
de um partido reformista que se dizia de esquerda, se tornou fácil, para nós
revolucionários.
Nesse sentido, dentro do
movimento revolucionário (e eu não falo aqui dentro da ““esquerda”” que abarque
até os governistas) como resultado dessa situação política, os desvios
direitistas no movimento estão mais neutralizados e mais perceptíveis, e logo,
não apresentam tanto perigo como outrora apresentava, pelo contrário, entre
nós, revolucionários, está cada vez mais “neutralizado”, mais fraco.
Neste sentido os desvios esquerdistas é que hoje estão menos
perceptíveis, que estão mais ofuscados, e que precisam de nós mais atenção,
justamente por conta desses fatores.
O militante revolucionário
deve se policiar a todo o momento quanto a estes problemas recorrentes da
militância. No Brasil, muito influenciado por estas questões já citadas,
conjuntamente com o espírito das Jornadas
de Junho, o esquerdismo em muito tem passado despercebido entre os
militantes revolucionários, e dessa forma, caímos em vários erros práticos da
militância, como o principismo, o “purismo”, sectarismo e entre outros, sendo todos eles variados sintomas de um
mesmo mal: o esquerdismo.
3. Vigilantes
contra o esquerdismo no seio do movimento
Adentro do movimento
estudantil (e não apenas nele) vemos coletivos “horizontalistas” que centram
suas críticas as outras agremiações de esquerda, na prática de “manobras no
movimento”, na forma como agem nas entidades (“aparelhando”, por exemplo) e
entre outras coisas. Boa parte dessas acusações acaba sendo ataques “a forma”
de se agir no movimento, sem se centrar no “conteúdo” e na finalidade com qual
está se agindo, sendo muitas vezes uma mera crítica “puritana” a condutas “aparelhistas”,
“autoritárias”, e etc. E quase todas elas acabam sendo, além de serem críticas
que não centrem fogo no conteúdo (mas sim na forma) das ações políticas, serem
críticas vazias e hipócritas, pois no final das contas, as agremiações que mais
atacam o autoritarismo desembocam em ser os grupos de indivíduos mais autoritários
possíveis, e os que falam mais em “manobra” e “aparelhamento” são os que no
final das contas mais “aparelham” as entidades. São os “puritanos” do movimento,
que em certa medida também desembocam na hipocrisia política.
E também militantes que nos
movimentos sociais em geral criticam qualquer manobra política e aliança com
grupos que “sejam menos esquerda do que ele”, acreditando que é simplesmente
rompendo com agremiações políticas que sejam oportunistas (ou que possuem desvios)
que o “joio e o trigo” vão se separar, isso é, que demarcaremos campo entre nós
e o campo não-revolucionário. Não, não é abdicando de toda e qualquer relação
com grupos menos à esquerda que nós, que as coisas se resolveram assim. Na
verdade, esse tipo de conduta só poderá, na verdade, contribuir para o
isolamento dos revolucionários no seu trabalho político com as massas. Como nos
diz Lênin:
“As
pessoas ingênuas e totalmente inexperientes pensam que basta admitir os
compromissos em geral para que desapareça completamente a linha divisória entre
o oportunismo,
contra o qual sustentamos e devemos sustentar uma luta intransigente, e o
marxismo revolucionário ou comunismo. Mas essas pessoas, se ainda não sabem que
todas as linhas divisórias na natureza o na sociedade são variáveis e até certo
ponto convencionais, só podem ser ajudadas mediante o estudo prolongado, a
educação, a ilustração e a experiência política e prática. [...] É
surpreendente que, com semelhantes ideias, esses esquerdistas não condenem
categoricamente o Bolchevismo! Não é possível que os esquerdistas [...] ignorem
que toda a história do bolchevismo, antes e depois da Revolução de Outubro,
está cheia de casos de manobra, de acordos e compromissos com outros partidos,
inclusive os partidos burgueses!” (Wladimir
Lênin).
Uma prática também recorrente
dos esquerdistas é a sua falta de flexibilidade no que se refere aos métodos e
espaços de luta com quais os revolucionários devem, respectivamente,
implementar e ocupar. Lênin já nos
ensinou de muito tempo sobre a importância da combinação dos meios ilegais com
os legais, inclusive, em certos momentos, até as eleições burguesas, sem ter
nenhum ilusão quanto ao processo eleitoral burguês, obviamente. E há uma falta
de flexibilidade por parte de muitos esquerdistas em verem estas questões por
parâmetros principistas.
Da mesma forma que no
discurso dos oportunistas de direita, a participação na eleição burguesa é o
que há de mais importante na luta em nosso país, credulando a ela a
possibilidade de mudança, e que se ausentar das eleições, é quase que uma
heresia, do outro lado, para alguns indivíduos, a participação de alguma
agremiação em determinados espaços institucionais já quer dizer que
automaticamente essa agremiação é oportunista, antirrevolucionária, ou qualquer
termo pejorativo do tipo, sobretudo se estivermos falando das eleições burguesas.
É um principismo barato, tanto direitista quanto esquerdista: 1) “Não faz campanha nas eleições que realmente
mudam o país? Sectário!”, 2) “Indicou
voto num candidato? Oportunista!”.
Esse principismo, tanto em ver como um princípio a participação nas
eleições, quanto em ver como um principio a total negação das eleições burguesas
é extremamente problemático. Os revolucionários não devem ver como um princípio,
tanto a participação quanto a não participação, mas sim, sempre como algo flexível
a cada momento e situação política, por um ponto de vista tático e não de
princípios!
Neste sentido é importante que
nós, revolucionários, estejamos sempre vigilantes contra estes tipos de
prática. Sempre que alguém falar muito contra o autoritarismo como
justificativa de sua própria conduta autoritária e desrespeitosa para com o
coletivo, nós revolucionários, devemos estar vigilantes. Sempre que
determinadas agremiações com um discurso “horizontalista” e “puritano” contra
os “aparelhistas” (geralmente agremiações ditas “autonomistas” e “libertárias”)
estiverem justificando suas próprias práticas de aparelhamento, nós
revolucionários, devemos estar vigilantes. Sempre que posições dogmáticas ou
principistas estiverem crescentes adentro no movimento, nós revolucionários,
devemos estar vigilantes.
Devemos estar vigilantes, e
sempre precavidos para nunca estarmos sujeitos aos oportunismos tanto de
esquerda como de direita no seio do movimento revolucionário. Temos sempre que
estarmos vigilantes quando outros grupos políticos estão utilizando destas
práticas, e sermos mais vigilantes ainda quando somos nós que estamos
suscetíveis a pratica-las.
Denunciar o o esquerdismo no seio do movimento revolucionário e impedir que ele se propague entre nós é uma das principais tarefas dos revolucionários no momento político atual!
À Unidade!