Na última quinta-feira, 19 de dezembro do presente
ano, um jornal de grande circulação na capital pernambucana publicou uma entrevista
com o até então secretário de defesa social, Wilson Damázio. Na entrevista,
Damázio afirmou que “o policial exerce um fascínio no dito sexo frágil. Eu não
sei por que é que mulher gosta tanto de farda”. Além de fazer declarações
preconceituosas contra os homossexuais. O resultado destas declarações foi sua
entrega de cargo, que foi aceito pelo governador. É preciso salientar que a
queda do Secretário Wilson Damázio foi uma vitória não só para as mulheres que
são abusadas sexualmente por policiais (e que o secretário de defesa
desdenhava) como também de todos os movimentos sociais que há anos vêm lutando
contra a opressão imposta pelo Governador Eduardo Campos. A queda de Damázio
era uma das pautas defendidas pelos movimentos e organizações que se lançaram
as ruas pelo passe-livre, e tiveram como resposta apenas a violência
institucionalizada, protagonizada com especial sadismo pelo ex-secretário.
Entretanto, algumas questões se passaram desapercebidas aos olhos da opinião
pública, e é necessário que as expliquemos.
Segundo que o Governador não arriscaria perder qualquer popularidade de voto para a próxima eleição presidencial tendo sua imagem associada a um homem homofóbico, machista e preconceituoso. Decidiu, provavelmente sem pensar duas vezes, que era melhor trocar de secretário a perder seus tão preciosos votos. Mas quando se trata de bater em estudantes e trabalhadores, a situação foi diferente. Mesmo com a imagem totalmente manchada, o governo se recusou a demitir o Secretário, talvez porque poderia demonstrar de forma clara o reconhecimento pelo fascismo que se instaurou em Pernambuco nos últimos meses.
Acreditamos que se faz necessário levar em conta estes meses em que o Senhor Damázio implantou o terrorismo policial como regra no trato com os movimentos sociais para explicar o desgaste que o Secretário já tinha com a opinião pública, sendo estas declarações na verdade o "tiro de misericórdia" sobre o destino do secretário. Damázio declarou guerra aos movimentos sociais, ao povo, e de certa forma sempre procurou dedicar uma "atenção especial" a Unidade Vermelha. Nas chamadas Jornadas de Junho/Julho, enquanto milhares de jovens tomavam as ruas da região metropolitana de Pernambuco, o sr. Damázio ordenou aos seus capangas que invadissem e tentassem armar uma armadilha para levar preso um dos nossos camaradas em Pernambuco, colocando sua família em uma situação muito delicada, embora a Organização tivesse tomado as devidas medidas para que nosso camarada não caísse assim tão facilmente. É necessário lembrar-se também que foi por ordens diretas do sr. Damázio que os membros da Unidade Vermelha foram perseguidos e até presos por sua polícia. Só o fato de se andar com a braçadeira da UV em um protesto era motivo para sermos marcados pelas forças repressivas e sermos os alvos prioritários caso surgissem oportunidades. Citaremos dois exemplos: primeiro, o do camarada Rodrigo Dantas, que foi apontado pelo secretário em vários meios de comunicação como um "baderneiro" e que "portava bombas em sua casa". Pouco depois destas declarações, o mesmo foi pego numa emboscada feita pelos policias numa estação do metro após os protestos do dia 07 de Setembro. Após o camarada ser levado para a delegacia, a delegada especial da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE), Patrícia Alcoforado, com ordens expressas do ex-secretário, ordenou que o delegado de plantão usasse de todos os meios para colocar o Camarada Dantas na cadeia. O mesmo aconteceu posteriormente com o camarada Bruno Torres, que por ordem do ex-secretário, acabou sendo o único selecionado entre 16 detidos e foi parar no COTEL.
A imagem do Secretário já estava fortemente abalada, e com ele a do governador. Mesmo que não tenha sido proposital, as palavras de Damázio na entrevista e com elas sua exoneração ajudaram o governador a se livrar de uma figura odiosa para as massas populares. Entretanto, em que pese as circunstâncias ainda pouco claras acerca do afastamento de Damázio, o certo é que sua queda representou uma vitória do povo pernambucano, dos seus movimentos sociais organizados e, sobretudo, uma vitória da democracia.
Apesar disto, duvidamos sinceramente de mudanças substanciais na política repressiva do Governo do Estado. Acreditamos que a política fascista da SDS continuará, mas só que agora com os movimentos sociais ainda mais fortalecidos e confiantes. Por sua vez, o sr. Damázio, agora inútil para os poderosos, foi descartado tal como o sistema descarta qualquer "peça" para não prejudicar sua engrenagem maior.
O homem que antes era o chefe do terrorismo institucionalizado, o carrasco do povo pernambucano, caiu ao se sujar com a própria saliva.
Evidentemente, ele, que declarou guerra a esta Organização, que apontou nossos camaradas como terroristas, que implantou um estado de sítio em Pernambuco, que mostrou de fato quem é o “homem” que existe por trás da farda, já vai tarde, e não deixará qualquer saudade.