Porque cobrimos nossos rostos?
A UNIDADE VERMELHA contra a perseguição feita a seus
militantes, a outras organizações combativas e ao Black Bloc!
Reafirmar a autodefesa como
necessidade em tempos nefastos de repressão!
Esse
ano foi um ano de grande crescimento da insatisfação popular, e pelo mesmo
motivo se acentuou o nível de repressão a manifestantes nos atos de rua. Muitos
manifestantes que estavam ali em um protesto pela primeira vez se viam coibidos
pelas instituições de repressão do Estado Burguês. Só o ego da elite e a
incompetência de certos governantes não permitam perceber o que os mesmos
estavam fazendo, e porque os protestos e mobilizações não paravam mesmo com a
Policia em peso nas ruas. A "casta rica" não percebeu que o “cassetete alheio”
e “as prisões sem motivo” são fermentos
poderosos para se potencializar indignações já existentes.
As
máscaras e lenços nos rostos não são coisas de hoje. Nós já usávamos a bastante
tempo. O patrão conservador que reconhece o rosto de seu empregado na
manifestação que saiu na TV, internet ou jornais, e o demite de seu emprego por
isso, fazia desde muito tempo jovens trabalhadores taparem seus rostos. A
preocupação dos pais que são lesados pela grande mídia, para com seus filhos
indignados que estão nas ruas, também fez com que há muito o uso de algo que
encubra os rostos fosse desde já usado.
Governantes
incompetentes a serviço de Elites soltavam seus cães raivosos nas ruas. Se a
repressão ao povo é ilegítima, em qualquer proporção que seja, como se esperar
que o povo reagisse a repressões “sem
dosagem” e “sem limitações”.
Governantes sem escrúpulos, como é o exemplo do Sérgio Cabral do RJ, foram
protagonistas na cruel arte o fascismo policial. Os governantes e as Elites
deixaram bem claro a quem quer que fosse as ruas se manifestar: Se demanda mais
policiais contra ativistas políticos do que com ‘bandidos comuns’. Nós somos um
perigo iminente pior que qualquer criminoso.
Como
era possível? Se esforçar pra tentar colocar mais policial do que manifestante
nas ruas, e não esperar que os manifestantes não reagissem de nenhuma forma?
Havia uma demanda objetiva nas manifestações de rua, estava claro até aos
leigos, e ficou mais claro nas manifestações em apoio a recente greve dos
professores no Rio de Janeiro. Chegaram ao cúmulo de espancar “por conta das
ordens superiores” professores indefesos. Uma professora idosa morreu por
inalação de gás lacrimogêneo. Uma professora que anda de cadeira de rodas quase
foi espancada. Tudo isso floresceu não somente de uma ideia, mas abriu os olhos
para uma demanda urgente das massas que estavam nas ruas: A sua autodefesa e
proteção nas manifestações.
Quase
ninguém estava disposto a ter que sair da luta e das ruas por conta de
cassetadas-policiais sem motivo, e a massa queria continuar suas mobilizações.
A autodefesa vem então como necessidade fundamental de quem está nas ruas. Um
pouco antes de se perceber essa necessidade, veio se inserindo no Brasil em
diversos estados a tática para uso em protestos conhecida como Black Bloc. Ela não é nova, inclusive há
anos ela existe em diversos países Europeus. Mas isso não é de todo um mal, não
significa necessariamente que “somos um país atrasado até nesse aspecto”. Se a
tática Black Bloc cresceu só agora no Brasil foi mediante ao fato de que a
demanda dessa tática nas lutas em solo pátrio se fizeram somente agora, e não
poderia ter sido imposta antes. Ela veio num momento propício.
Um
dos exemplos mais famosos que provam com experiências práticas que a tática
Black Bloc têm sido uma necessidade para as manifestações foi o caso de uma
professora cercada de policiais militares que foi literalmente “salva” da
policia (que queria lhe bater) graças a poucos Black Blocs. Os Blacks expulsaram
os policiais aos murros, madeiradas e na base da imposição revidada e da autoridade
militante contra os homens que representam a autoridade do Estado Burguês!
Com
o tempo então se consolida a prática. Ativistas soltos, sem vínculos com
nenhuma força política, mascarados com o que podem por no rosto, com escudos de
maderites improvisados, para proteção contra os ataques do Estado. Organiza-se
com um tato que só quem sabe como a policia se porta, e de quem sabe se portar
com a policia, pode vir a ter. Enrijecem-se nas ruas como um legítimo braço de
autodefesa dos manifestantes.
A Unidade Vermelha na luta contra
a passividade e inércia!
Para
que conseguíssemos consolidar isso tudo que já foi abordado não foi um processo
fácil. Em certas localidades do país foi necessária a articulação árdua e
cansativa de agrupamentos políticos mais combativos, tal como a Unidade
Vermelha e outras organizações e coletivos. Propagar a necessidade de algo como
um “braço de autodefesa” para as manifestações e para nossa proteção nos atos
de rua, sempre foi uma tarefa que os militantes da UV nunca deixaram de lado.
Nos estados e localidades que não houvesse forças políticas combativas que
conseguissem cobrir tal tarefa, meio
que os “braços” de Autodefesa com mascarados iam se inserido nas massas
manifestantes um pouco exaustivamente, e meio que espontaneamente, sob mais
resistência que o normal, mas conseguiam ainda sim porque a necessidade de ser ter essa “proteção dos mascarados” era realmente muito grande. Acontecia um processo similar aos
casos de categorias de trabalhadores que entram em greve atropelando as
orientações dos sindicatos que não apoiam a paralisação (como sindicatos pelegos).
A
Unidade Vermelha, como organização revolucionária que teve seu surgimento
recente, surgiu neste mesmo aspecto e cresceu sob esta mesma conjuntura, em que
a tática Black Bloc cresceu país a fora. Não se limitamos a nos dizer como “uma
tática” onde qualquer pessoa que queira “se dizer” como Unidade Vermelha possa
se dizer, fazê-la, aplica-la e etc., pois defendemos um compromisso cotidiano
com a luta e com nossa organização, e não a atuação de ativistas soltos sem
vínculos, mas ainda sim surgirmos no meio da passividade e inércia dos partidos
e organizações de esquerda, sobretudo de Pernambuco, e combatemos essa mesma
inércia.
No
inicio, como organização secreta, nossos militantes não se diziam abertamente a
ninguém que pertenciam a UV (na verdade ninguém sabia quem eram ou não os nossos
membros). Com isso, conseguíamos mais facilmente se inserir nas articulações
entre os partidos e da mesma forma, conseguíamos mais facilmente levar unidade
entre as forças políticas de PE, para assim conduzir essa unidade política à
radicalidade em atos. A quem via de fora, éramos indivíduos soltos que conheciam
membros de diversas forças e simplesmente isso. A quem “visse por dentro” via que éramos indivíduos
articulados que conseguiam fazer forças políticas inertes se moverem,
que colocavam forças afastadas à fazerem mobilizações
conjuntas, e levar a unidade entre essas forças unidas (antes afastadas) a um
caminho contra a passividade e em prol da radicalidade. Isso tudo feito com
compromisso orgânico e planejamento político.
A
UV hoje devido a diversos problemas passados não permaneceu como organização
secreta e passou a ser uma força de atuação pública. Mas isso não quer dizer
que nossa luta contra os males do movimento parou, pelo contrário, persistiu no
Brasil a fora. A organização a passos curtos e cuidadosos se expandiu a outros
estados brasileiros. Em todos estes estados, cuidadosamente, desta vez já em
atuação aberta, passou a identificar os indivíduos e agrupamentos mais
combativos que podem colaborar com a luta, articulando mobilizações conjuntas
com os mesmos, mas sempre, abrindo margem e se mantendo disposto ao dialogo com
as outras forças políticas que não estivessem ainda nesse campo, para que as
mesmas possam sempre estar sujeitas a avançar em seus posicionamentos e se
tornar mais combativas.
A
UV cresceu no estado em que foi fundada (Pernambuco), também cresceu no Pará,
cresceu absurdamente também no Rio de Janeiro, e também foram fundadas bases em
outros estados (a presença orgânica da UV totaliza-se em pouco mais de 10
estados).
Dentre
os princípios de nossa organização sempre tivemos a autodefesa como “lei”, como
algo que todos devemos carregar aonde formos. Em qualquer atividade política,
caso você tenha sua integridade física atacada por um agente policial ou mesmo
por um fascista qualquer, é DEVER que se reaja na mesma moeda! Esse é um
princípio que todo revolucionário deve carregar e a UV carregou esse princípio
a todos estados que chegou. No RJ a UV, a OATL, o MEPR, o Coletivo
Lênin, dentre outras organizações, tal como em PE a UV, o MEPR, a RP
(Resistência Pernambucana) e entre outros grupos, pelo menos no que diz
respeito as mobilizações de rua, foram organizações fundamentais que
colaboraram também para propagação do fundamental princípio da autodefesa e para
aplicação da mesma. Mas claro, tudo isso com a também ajuda do crescimento do
número de pessoas que usam a tática Black Bloc, pessoas essas que nos ajudaram,
e que se vão se mantendo laços de ajuda recíproca entre companheiros, sob o
fogo e calor da luta.
A
Unidade Vermelha não cresceu a toa, mas tão somente porque também se demandava
de uma organização de tática ampla que se esforçasse pela implementação e
propagação do necessário uso de pessoas destacadas e/ou voluntárias para se
voltar a proteção dos manifestantes, pelo uso de máscaras ou lenços que lhes
protegesse da identificação da policia (por conta do risco de perseguição
policial-política), e para aplicar e defender o princípio de autodefesa. E
quando falamos que defendemos o direito dos manifestantes protegerem sua
identidade e o direito da proteção e autodefesa, não o defendemos apenas em
palavras. Propagandeávamos não só em nossas falas e discursos, mas também com a
força do exemplo, pois “a palavra
convence, mas o exemplo arrasta”. Muitos se surpreendiam ao ver: militantes
com lenços-uniformes no rosto protegendo sua identidade, braçadeiras no braço
esquerdo com a sigla “UV”, e sob o hastear da bandeira vermelha, bem
articulados e em coesão. Da mesma maneira, paralelo a isso se crescia o uso de
moletons preto, toucas-ninja negras e etc., entre indivíduos soltos que
praticavam o Black Bloc. Felizmente, ao que esses fatos vêm nos indicando
crescíamos com uma prática e posicionamentos em consonância com as necessidades
das massas que estavam (e ainda estão) nas ruas.
Partidos de esquerda: defender a
combatividade não só nas palavras, mas também no exemplo!
A
UV surgiu nessa conjuntura, surgiu na necessidade de se reafirmar a autodefesa
e da necessidade de combater a inércia entres forças políticas já existentes.
Mas não podemos alegar que a UV era a única organização de esquerda. Antes de
nós existiam outros partidos que são (e outros que “alegam ser”) de esquerda.
Os
partidos de esquerda, tal qual o PCB (Partido Comunista Brasileiro), PCR
(Partido Comunista Revolucionário), PCO (Partido da Causa Operária) e dentre
outros, iam tomando seus posicionamentos acerca do que estava acontecendo. Não
nego que todos estes partidos citados têm militantes valorosos no que diz
respeito no “como agir” nas ruas, mas ainda sim, admitamos, não é algo tão
enraizado na maioria de seus integrantes, mas tão somente em alguns poucos,
muito poucos. Isso se dá, porque estes diversos partidos dá ênfases nos seus
estudos teóricos e nas suas mobilizações “institucionais” como o Movimento
Estudantil, por exemplo, (o que também é importante, claro), mas por isso
acabam não voltando tanto suas energias para se desenvolver e se forjar nas
mobilizações mais acirradas e “materiais” fora de nossas sedes e dos diretórios
estudantis que estamos inseridos. E não nos cabe aqui, nesta nota, citar os problemas desses partidos ou divergência que temos com tal ou tal grupo partidário, mas sim, lembrar algo referente a esse assunto em específico que estamos tratando, que é: as mobilizações de rua.
Alguns dessdes partidos até certo tempo, ainda não tinham posicionamentos muito nítidos quanto a casos ligados aos
Black Blocs, ou mesmo ligados a avaliações sobre o uso de “braços de autodefesa”
e proteção para manifestantes. Esse tipo de coisa em geral. As vezes não
necessariamente porque eles cogitavam se situar contra, mas muitos, porque não
estavam vivenciando aquilo na prática, ou pelo menos não profundamente como a
UV e outras organizações vivenciaram. E como qualquer partido que estava vendo
a coisa um pouco “de fora” sobre essas articulações, é normal que se tenha
leituras não aprofundadas, e que não se tenha posicionamentos não tão firmes
(isso é, um “posicionamento tímido”).
Mas
as mobilizações foram se acumulando e se acirraram muito, e os partidos, pelo
menos os que ainda se situam num campo mais à esquerda, acabavam sempre sendo
levados pelo endosso das indignações, e acabaram por ficar bem menos “por fora”
do que antes, inclusive, bem “por dentro” das ações mais acirradas, ações mais
radicais, contribuição em autodefesa em atos e etc. Ou pelos alguns dos
partidos, não todos. Estes partidos, no geral (os que estavam tomando
posicionamentos mais avançados sobre a questão) poderiam até não dirigir ou ser
responsáveis por coordenar os atos de radicalidade nas ruas, mas apesar de não
terem dirigido tais ações, não as reprimiram, pelo contrário, no acúmulo das
lutas, participaram de tais ações conjuntamente com as massas indignadas nas
ruas. Mas lembremos que não foram todos partidos que se dizem de esquerda que
fizeram o mesmo.
No
Rio de Janeiro, recentemente ocorreu o noticiado “Leilão de Libra”, o mais
recente caso de grande privatização do nosso petróleo a megaempresários
internacionais. Além das condições absurdas que somos submetidos no transporte
coletivo, o governo federal executa essa ação para benefício dos imperialistas
sedentos de petróleo, e ainda coloca a Força Nacional a disposição desses
mesmos imperialistas para “proteger o leilão contra baderneiros”. Para muitos
isso foi o estopim. Protestos em prol de um transporte realmente público e de
qualidade, em apoio aos professores, e o governo federal fazendo mais do que
nunca deveria ter feito. Como foi falado, foi o estopim. Apareceram então,
agora não somente ativistas travestidos de negro e com toucas-ninja, mas também
ativistas encobertos de vermelho e com suas bandeiras partidárias. Os
companheiros de luta do PCO, PCB, PCR e individuos do PSOL (que não sabemos a que tendência do partido pertence, ao que tudo indica, eram militantes soltos, e possivelmente não centralizados), no Rio de
Janeiro segundo os relatos e segundo imagens, foram os partidos que se tinham
militantes presentes em destacadas ações radicais no protesto contra o “Leilão
de Libra”, com escudos para proteção deles e do resto dos manifestantes além de
estarem dispostos a atacar caso fossem atacados pela repressão (As duas imagens ao lado mostram militantes jovens desses mesmos partidos). No episódio do
Leilão de Libra até atribuíram a eles a alcunha de linha de frente Red Block que atuaram juntamente com os
que já haviam desde muitos e muitos atos realizado blocos de autodefesa. A antiga
defesa tímida de partidos aos Black Blocs, agora se faz como uma defesa por
meio do exemplo, visto que nesse momento tais partidos se demonstraram
dispostos a destacar militantes para colaborar nas ações praticas, e espero que
assim eles o continuem e que levem essa postura a todos estados que eles estejam presentes (isso talvez não tenha acontecido hegemonicamente no país, mas mais no Rio de Janeiro, com certeza).
Mesmo para aqueles militantes que não tenham simpatia alguma com estes partidos, reconhecer que esta a postura deles adotadas no importante ato do Leilão de Libra foi altamente avançada, é necessário. Tal como também reconhecer que os posicionamentos que eles estão tomando em relação aos Black Blocs também. O que lhes falta mais em relação a estar mobilizações de rua, é adentrar mais nesse meio e se manter nessa linha, além de se forjarem mais nesse tipo de mobilização. Contudo, não reconhecer essas posturas como avançadas, é infantilidade e sectarismo para com essas organizações.
Mesmo para aqueles militantes que não tenham simpatia alguma com estes partidos, reconhecer que esta a postura deles adotadas no importante ato do Leilão de Libra foi altamente avançada, é necessário. Tal como também reconhecer que os posicionamentos que eles estão tomando em relação aos Black Blocs também. O que lhes falta mais em relação a estar mobilizações de rua, é adentrar mais nesse meio e se manter nessa linha, além de se forjarem mais nesse tipo de mobilização. Contudo, não reconhecer essas posturas como avançadas, é infantilidade e sectarismo para com essas organizações.
O
PCO também merece nossos elogios por outras coisas. No Rio de Janeiro nos foi
informado que alguns militantes soltos do PSOL estiveram presentes em ações de resistência
no Leilão de Libra, no entanto no mesmo partido se tinha outros setores
e outras tendências, setores estes presentes inclusive no Rio de Janeiro, que publicara
notas, e demonstrara em ações práticas o quão errados estão em suas análises e
em sua práxis. Denunciando essas
práticas e posicionamentos, o PCO foi um dos partidos que expôs este
problema com mais afinco, e foi dentre os partidos citados o que mais abertamente saia em defesa dos BB’s.
Entre suas notas, as mais famosas foram “A
burguesia e o governo não precisam de polícia nas ruas; eles têm o PSTU e o
PSOL” e “Por que a ação dos Black
Blocs tem tanta simpatia da população?”. Talvez nestas notas, todos os membros do
PSOL foram generalizados pelo PCO, mas ainda sim, as denuncias consistiam sobre
constatações reais em relação aos feitos do PSTU e de significativos setores do
PSOL.
Partidos nem tão de esquerda
assim: certos discursos em frente única
com a imprensa burguesa.
Falei
bastante do PCB, PCR e PCO, e também de alguns poucos indivíduos do PSOL que
partiram pra resistência e que estão defendendo posicionamentos avançados. Mas
nem tudo são flores, e nem todos partidos são realmente vermelhos. Nem todos que se dizem de esquerda implementam práticas que condizem com o que realmente pode
ser considerado de esquerda.
O
alto escalão da repressão no momento está irritadíssimo com o fato de não poder
reprimir os manifestantes tão facilmente quanto antes. Os jovens nas ruas
organizando suas “tropas de choque das
manifestações” fazem com que sempre que os agentes da repressão nos
atacarem acabam sempre sujeitos a serem atacados na mesma moeda, ou na melhor
das possibilidades, de nem conseguir chegar a atacar um manifestante indefeso,
por estar protegido. Isso tudo, deixa não só os altos escalões da Policia
Militar irritado, como também a Elite e seus subservientes governantes. Dessa
maneira colocaram a imprensa burguesa para fazer de maneira mais intensa, o que
já antes faziam: Propaganda negativa dos manifestantes mais radicais, e agora,
uma publicidade pesada contra os Black
Blocs. Enaltecendo o discurso da classe média domesticada de que “eu acho manifestações
legítimas, mas a partir do momento que eu chego numa manifestação e vejo um
monte de gente mascarada...”, ou mesmo dos que dizem “eu gosto de manifestação
de rua, até fui naquela que a Globo divulgou um monte, só não gosto de
vandalismo e de mascarado...”. Além disso, repetiam-se palavras como mascarados, vandalismo ou baderneiros milhares e milhares de vezes
na televisão, na velha prática da imprensa medíocre e mentirosa de que se repetir uma mentira mil vezes lhe tornará
uma verdade.
É
lógico que se a Elite quer bater através de seus cães de guarda em
manifestantes indefesos ela irá o fazer. Mas e quando eles se tornarem não tão
indefesos assim? E quando eles passarem a tomar consciência de que devem se
proteger e reagir as porradas que
sempre leva? Ele irá se organizar, ele irá se armar para se proteger, e
logicamente a Elite vai utilizar sua voz, que é a imprensa, para sabotar
justamente esses instrumentos de proteção dos manifestantes. E é o que ela vem
fazendo: Publicidade negativa a fim de acabar com os Black Blocs e todos os mascarados, já que qualquer mascarado pode
ser um potencial manifestante que saiba se defender e defender seus irmãos de
luta.
Eu
não sei se por oportunismo ou por algum problema que ofuscasse suas visões, mas
certos partidos que são (ou pelo menos se dizem) de esquerda deram a entender que NÃO ENTENDERAM ou NÃO QUERIAM ENTENDER
isso.
Em
nota, Zé Maria, presidente Nacional do PSTU (Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificados) saiu em defesa de algo não muito diferente do que a
imprensa burguesa também quer. Sua nota tinha um título como: “VIVA A LUTA DOS
EDUCADORES DO RJ, E CHEGA DE BLACK BLOCS!”. A Contradição já se faz no título.
Os próprios professores do Rio de Janeiro saiam em defesa dos Black Blocs porque foram justamente
eles, os professores, que foram os mais beneficiados pelos Blacks. Os professores que estavam sempre sujeito a apanhar da
Policia Militar do Rio de Janeiro viram na prática, e nas ruas, a necessidade
de jovens preparados para a autodefesa, para que os protegesse da violência
alheia. Comemorar a luta dos educadores do Rio de Janeiro sem agradecer aos
Black Blocs era uma contradição sem tamanho.
O
destacado trecho de seu título “Chega de Black Blocs” clamava a mesma coisa que
a Elite e o Estado Burguês vêm clamando. E é inadmissível que um partido que se
diga de esquerda faça coro
conjuntamente com a voz de nossos inimigos, isso é, a imprensa burguesa.
Além
do PSTU, governistas da frente PCdoB/PT rechaçavam todo tipo de ato mais
combativo, todo tipo de resistência mais dura contra as Elites e ao Governo.
Mas deles era de se esperar, visto que o PCdoB e o PT fazem parte de um esquema
eleitoreiro onde estão submetidos e se mantém servientes as Elites, e foram
eles mesmos (o PT) que colocaram a Força Nacional para reprimir os
manifestantes durante o Leilão de Libra, além de que foi o PCdoB que apoiou o
leilão. Mas quanto a eles, a Unidade Vermelha não tinha mais surpresa alguma. Não
esperávamos muita coisa de quem já sabemos que são vendidos ao governo federal
(governo esse, que é vendido aos grandes acionistas e banqueiros).
Outra
coisa que nos intrigou, foi uma nota do Juntos (juventude do MES, que é
tendência do PSOL), escrita por um certo Pedro Serrano. No título, a nota tinha
com todas as palavras “EU NÃO ESCONDO O MEU ROSTO”. Pode parecer um título de algum
texto de manifestante despolitizado guiado pela revista VEjA. Pode parecer um jargão de algum cara da classe média, o velho “domesticado”
que luta “só contra a corrupção”. Esse título cabe em muitas situações, mas não
foi a nenhuma dessas. O título foi nada mais nada menos de uma pessoa, que pelo
encargo que carrega numa organização que se diz de esquerda, deveria ter no mínimo mais responsabilidade com as
palavras.
Na
nota Pedro Serrado do Juntos falava: “...Queremos tomar as lições de junho.
Defendo profundamente o direito daqueles que o fazem, mas estou todos os dias
na rua e discordo da tática dos Black Blocs. Estou todos os dias na rua e não
escondo o meu rosto.”. Declaração no mínimo infeliz num momento em que as Elites
e a mídia querem justamente vetar nossas máscaras, nosso direito de autodefesa
e nosso direito de preservar nossos rostos por conta de perseguição
policial/política.
Desses
partidos, o mínimo que eles poderiam fazer, é, ambos publicarem declarações de
autocrítica e reformularem suas opiniões erradas. Para quem não está
cotidianamente no fogo da luta[1], analisar justamente
esse fogo no mínimo vai lhe custar
análises erradas ou baseadas em julgamentos precipitados, sobre situações onde “só quem está por dentro” pode entender, e é isso que lhes falta antes de qualquer
coisa.
Os Black Blocs sempre acertam? Como os Blacks
agem em diferentes localidades e como agir mediante seus erros?
Então, as atitudes dos Black Blocs não estão
passiveis de críticas caso elas estejam erradas. Há em certos que certas
pessoas que utilizam dessa tática de protesto passam dos limites, no que se
refere a depredações e coisas do tipo. Mas não falo de todas, não estou aqui
para deslegitimar “toda e qualquer depredação”, pelo contrário: “Longe de
opor-se aos chamados excessos, aos exemplos de vingança popular sobre
indivíduos odiados ou edifícios públicos aos quais só se ligam recordações
odiosas, não só há que tolerar estes exemplos mas tomar em mão a sua própria
direção. Durante a luta e depois da luta, os operários têm de apresentar em
todas as oportunidades as suas reivindicações próprias a par das reivindicações
dos democratas burgueses.” (Marx/Engels – Mensagem da Direção Central à
Liga dos Comunistas). Não deslegitimamos ações que do nosso ponto de vista
moral não estão erradas. Se são as classes mais exploradas de nosso país
que mais transparecem fazer as ditas “ações radicais” e “vandalismos”, não
seremos nós que o condenaremos, o Estado Burguês já faz isso.
Lembremos-nos dos trabalhadores no metrô em Recife,
quando chegaram a atrasar mais de quarenta minutos o trem, e não deram nenhuma
explicação aos trabalhadores que precisavam daquele transporte pontualmente. O
que ocorreu foi uma destruição de catracas, ataques a estação e etc. Outro
exemplo recente, foram os ataques nas estações de trem na cidade do Rio de
Janeiro, como também o posterior trem incendiado por trabalhadores. Em outro
caso de alguns meses atrás, houve também no Recife em uma BR (estrada) uma
manifestação dos operários de SUAPE, onde fecharam a via com ônibus
incendiados. Foram jovens vagabundos infiltrados? Adolescentes baderneiros que
se infiltraram numa manifestação legítima? Bem longe disso. Foram trabalhadores
que sentem na pele a exploração e opressão todos os dias.
Então, se não achamos tais práticas imorais, quais
problemas nós vemos nos Black Blocs em relação a essas práticas? Pois
bem, a pergunta nem chega a ser difícil. Ela não é difícil, mas tem respostas
diferentes mediante cada localidade devido a particularidades das conjunturas nos
diferentes estados.
No Rio de Janeiro, por exemplo, é o local onde as
mobilizações conseguiram melhor do que em qualquer lugar do país, atrair mais
as massas da periferia (que concentra a população mais explorada). Estes mesmos
indivíduos do universo periférico tem bem mais ciência de sua condição e
de seus inimigos. Eles sabem melhor demarcar os alvos, e cotidianamente
vivem sob o higienismo e a repressão das policias na favela adentro, que dirá
no trato com policiais violentos com balas de borracha. E como é lá o local
onde essa população pobre e marginalizada mais se inseriu nas manifestações, é
justamente lá, onde o Black Bloc teve mais inserção para com os
favelados. Por isso, no Rio de Janeiro não se tem muito o que reclamar das
ações dos mesmos.
Em outros estados, como em Goiás, diferentemente do
Rio, as mobilizações não tem tanta inserção na periferia. Se tem muitos
estudantes que praticam o Black Bloc, mas não são muitos Blacks
que são mais oriundos das classes mais exploradas e das comunidades mais
marginalizadas (periféricas). Consequentemente suas praticas estão mais
sujeitas a erros, visto que boa parte são pessoas que não tem o mesmo tato que
os Blacks do Rio de Janeiro. Por vezes os mesmos são inconsequentes,
agem antes de haver qualquer atitude de represália da policia, quebram a frente
de lojas de pequenos-burgueses (que também são prejudicados por nossa ordem
social), além de abandonarem os outros manifestantes em plena chegada da
repressão, quando deviam na verdade resistir e protegê-los. Atitudes como essas
acabam afastando a classe trabalhadora das mobilizações e “sujando” um pouco o
nome do Black Bloc na região.
Em Pernambuco, há uma conjuntura nas mobilizações
parecidas com a de Goiás, no entanto, o Black Bloc de PE não chega a ter
experiências tão desastrosas e porra-loucas quanto as de lá. Existe
meio que uma maior coesão e um pouco mais organicidade, e da mesma maneira, há
menos atitudes espontâneas e inconsequentes, mais ainda há. Em PE mediante
ataques da policia, os Blacks certa vez derrubaram fileiras de motos
estacionadas (como um dominó), e no dia 23 de Outubro depredaram os vidros de
poucos carros estacionados. Ambas as ações erradas, dignas de duras críticas.
Temos de lembrar que no Brasil, inúmeros trabalhadores também possuem motos ou
carros, e aquelas motos ou carros podem ser de trabalhadores que justamente
queremos atraí-los a luta, e não afasta-los. Porém, em Pernambuco não chega a
uma situação tão desastrosa quanto em Goiás, visto que aqui, somente se tem
relatos dessas duas ações inconsequentes dos Blacks em PE, e que foram
cometidas como reação aos tiros, porradas e bombas da policia, enquanto que em
Goiás se cometem muito mais ações desse cunho, e quase nenhuma é alguma reação no
calor do momento a ações da policia (como foram em PE), mas sim, práticas
erradas iniciadas por eles mesmos.
Diferentemente em São Paulo e muito mais no Rio de
Janeiro, os Blacks não são tão imaturos assim, são mais coesos, e exercem mais a sua função. Se focam também, em
denunciar os inimigos da classe trabalhadora por meio de seus alvos nas ruas,
mas de maneira mais organizada, mais planejada e menos inconsequente e quase sempre, somente quando são atacados pelo Estado (por meio de sua policia), e sem
nunca esquecer o seu caráter de resistência e proteção contra a violência dos cães de guarda da Elite, diferentemente dos muitos que fogem como em GO.
Um ultimo recado.
As ações erradas do Black Bloc não devem ser
passadas em branco. Sim, devemos critica-los. Mas isso tudo deve ser feito de
uma maneira como se faz uma crítica a um companheiro de luta, uma crítica
feita a fim de fazê-los abandonar certas posturas erradas e dessa maneira
fazê-los avançar politicamente. Isso é muito, mas muito diferente de fazer coro
com a mídia burguesa, soltando declarações exigindo “CHEGA DE BLACK BLOC”,
pedir que não se usem mais máscaras, ou mesmo soltar outras jargões como
“EU NÃO ESCONDO MEU ROSTO”.
Estes agrupamentos parecem que esqueceram porque
nós partimos para ações de resistência, parecem que esqueceram porque cobrimos
os nossos rostos. Se tínhamos motivos para taparmos o rosto antes, agora nós
temos muito mais. Foi porque um militante da Unidade Vermelha teve seu rosto
reconhecido, que sua casa foi invadida e ele foi acordado por policiais
militares portando três armas apontadas para sua cabeça (esse incidente ocorreu
no Pará); foi por ter o rosto reconhecido, que o Alê foi praticamente
sequestrado e sujeito a violência policial para ele soltar informações sobre
outros manifestantes (incidente ocorrido em Pernambuco). E não se limitam a
esses casos, como ocorreram muitos no Brasil.
Nós da Unidade Vermelha, inúmeros outros militantes
de partidos mais combativos e outros movimentos ou coletivos políticos também
mais combativos, parecem representar uma ameaça a ordem vigente mais do que outros
grupos mais inertes (é a explicação mais plausível). Justamente por isso, não podemos nos dar ao luxo de facilitar o
trabalho da repressão. Não podemos e nem devemos facilitar que eles registrem
nossos rostos. Se você for alguém que não representa ameaça para eles, e por
isso não está tão sujeito a repressão quanto nós “mascarados”, tudo bem por
nós você não esconder sua cara, mas não precisa “falar groselhas” e
fazer coro com a voz midiática da Elite.
E ainda sim, se certa organização “não esconde o
rosto” nem está tão visada pelo inimigo, isso é um mau sinal para essa
organização, pois significa que não delimitou bem seu campo de atuação entre
essa organização e o inimigo. Significa também que sua prática não incomoda o
inimigo de uma maneira efetiva. Significa bastante coisa, e a maioria delas,
coisas nada boas, mas sim, coisas bastante negativas.
Que a Elite e seus órgãos de repressão compreendam
que nós não abaixaremos nossa guarda por tão pouco! Nossas máscaras, toucas,
lenços nos rostos e tudo mais não serão abaixados tão somente porque vocês
jogam seus cães de guarda para nos ordenar a tirá-las. Tirem vocês as mãos de
nós e de nossas máscaras. Da mesma forma não será pelo clamor de declarações da
pseudo-esquerda que as “tropas de defesa das manifestações” sairão das
ruas ou deixarão de cobrir os rostos.
Isso é um recado a pseudo-esquerda. E uma resposta
a Elite e seus lacaios armados!
TIREM AS MÃOS
DE NOSSAS MÁSCARAS!
APOIO AOS
BLACK BLOC’S DO BRASIL!
ABAIXO A
PSEUDO-ESQUERDA!
MORTE AOS
ORGÃOS DE REPRESSÃO!
- Comandante Cícero.
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Notas:
[1]
– Fogo da Luta aqui se refere a uma metáfora. O Fogo seria algo em referência a prática de ações mais radicais, de
articulação da autodefesa manifestante, de resistência nas ruas a repressão e
etc.